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Métodos de Investigação do Consumo Alimentar

1) O que são métodos do consumo de investigação alimentar?
Os métodos de investigação do consumo alimentar vêm evoluindo ao longo dos anos, evidenciando as limitações das metodologias empregadas frente à necessidade de conhecer o hábito alimentar dos indivíduos. Nos anos 60, período que anunciou grandes mudanças sociais juntamente com uma consciência global e doméstica da fome e questões ligadas à saúde, foram conduzidos os primeiros estudos epidemiológicos com grande número de indivíduos, tentando estabelecer uma ligação entre a dieta e aparecimento de determinadas doenças.

Durante esta década, o questionário utilizado para verificar a freqüência de ingestão de alimentos recebeu atenção especial.
Na década de 1970, prosseguiram as discussões a respeito das vantagens e desvantagens das diferentes formas de avaliar o consumo alimentar. A partir do trabalho de Beaton e colaboradores vieram à discussão os termos de variabilidade intra e inter individual .

Os vários métodos para conhecimento e avaliação do hábito alimentar diferem entre si quanto à maneira como a informação é coletada, o tempo necessário para a coleta dos dados e o tipo de informação que se procura.
De forma genérica, é possível subdividir os métodos de investigação do consumo alimentar em dois grupos:

a) àqueles utilizados na prática clínica, com interesses individuais e específicos relacionados às quantidade e qualidade da alimentação, podendo inclusive despender, na maioria dos casos, mais tempo e dinheiro para a sua aplicação e

b) àqueles utilizados em estudos epidemiológicos, que valorizam mais a questão populacional, deixando de lado as particularidades do indivíduo, caso estas não se reflitam na população; neste caso a praticidade na aplicação do método e o custo são mais valorizados.

2) Quais são os Principais Métodos de investigação do consumo alimentar?
Para a pesquisa epidemiológica são necessários instrumentos de avaliação de consumo alimentar capazes de caracterizar a dieta habitual dos indivíduos, de fácil utilização, de rápida aplicação, que tenham uma relação custo benefício positiva, considerando os custos totais da coleta de dados e seu processamento. Os principais métodos são Inquérito Recordatório de 24 horas (R24h), Registro de consumo de alimentos (RCA), Questionário de freqüência de consumo de alimentos (QFCA), História alimentar ou dietética (HÁ)

3) Qual é o mais comum entre eles e como é realizado?
O Inquérito Recordatório de 24 horas (R24h) é o mais comum. O indivíduo reporta todo o alimento (sólido e líquido) consumido durante às prévias 24h. Este método normalmente requer um nutricionista ou entrevistador bem treinado para a realização da entrevista. Geralmente são utilizados modelos de alimentos e medidas caseiras para ajudar a quantificar a porção ingerida, o que o torna, neste caso, quantitativo. O recordatório pode também ser de 7 dias, utilizando o mesmo procedimento de se relatar todo o alimento e bebida consumidos no período.

Este instrumento é bem aceito pela maioria dos entrevistados, o tempo de administração é curto, o custo é baixo, sendo útil em situações clínicas. Outra vantagem do R24h é o fato de que ele não promove alteração na dieta habitual, uma vez que o relato é posterior à ingestão. Como o período de ingestão é imediatamente anterior, os indivíduos se lembram da maior parte de alimentos que ingeriram (redução do viés de memória). Quando aplicado a grupos de indivíduos fornece a descrição da média de ingestão dietética do grupo.

Como desvantagens do R24h temos que o relato de apenas um dia não reflete o hábito alimentar do indivíduo, não sendo adequado para o estudo da relação entre hábito alimentar e o aparecimento de determinadas doenças Dados oriundos de um recordatório apenas não devem ser utilizados para estimar a proporção da população que tem ou não dietas adequadas .

4) Como é realizado o Registro de consumo de alimentos (RCA)? Quais suas vantagens e desvantagens?
O indivíduo registra o tipo e a quantidade de alimentos e bebidas ingeridos durante um período de tempo pré determinado. Este período pode incluir 3, 4 ou 7 dias ou ainda registros diários durante 1 mês ou até mesmo um ano. Geralmente, eles não passam de 3 ou 4 dias, pois períodos superiores a 7 dias o tornam cansativo.
Uma vantagem da utilização desse método é o fato de que o registro é feito na hora em que o alimento está sendo consumido, assim, ele não se baseia na memória do indivíduo.

Além disso, pode fornecer informações detalhadas sobre alimentos e padrões alimentares. O treinamento prévio do indivíduo minimiza possíveis erros.
As limitações do uso dessa técnica residem no fato de que a ingestão pode ser alterada durante o período de registro, sendo que a exatidão geralmente diminui após alguns dias consecutivos. É necessário que o indivíduo seja alfabetizado, além de estar altamente motivado para que o registro seja confiável. O método é sujeito a viés de seleção da amostra dado que sua utilização em populações de baixo nível sócio-econômico, imigrantes recentes, crianças e alguns grupos de idosos pode ser prejudicada. Além disso, as quantidades ingeridas de alimento devem ser identificadas corretamente e o indivíduo deve conhecer os utensílios de cozinha para relatar sua ingestão .

5) Como é realizado o Questionário de freqüência de consumo de alimentos (QFCA)? Quais suas vantagens e desvantagens?
O questionário de freqüência de consumo de alimentos é composto por uma lista de alimentos e bebidas cuja freqüência de consumo é perguntada ao indivíduo. Esse questionário pode se tornar mais sofisticado, fornecendo também uma estimativa quantitativa do consumo alimentar, incluindo-se informações sobre a porção diária consumida ou, por aproximação, comparando-a com uma porção alimentar de referência.

A obtenção dessas informações pode ser facilitada pela utilização isolada ou combinada de fotos ou modelos alimentares.
Para que a seleção dos itens alimentares seja informativa ela deve ter três características: 1) o alimento deve ser consumido com uma freqüência razoável por um número apreciável de indivíduos da população, 2) o alimento deve conter quantidades substanciais do nutriente de interesse, e 3) ter a capacidade de discriminar indivíduos da população com alto e baixo consumo do alimento. O número e o tipo de itens alimentares a serem incluídos no QFCA podem variar, dependendo do objetivo do estudo, mas deve-se garantir que estejam incluídos nessa lista aqueles que sejam fonte importante do nutriente de interesse e que contribuam com pelo menos 90% do teor total desse nutriente na dieta habitual.

Questionários de freqüência de consumo de alimentos extensos (100 ou mais itens alimentares) podem levar tanto a uma redução da acurácia dos resultados (devido ao cansaço dos indivíduos que respondem) como a uma superestimação da ingestão. Listas com um número reduzido de alimentos (15 a 30 itens) podem não ser suficientes para estimar o consumo alimentar do indivíduo, mas podem ser utilizadas para observação de algum nutriente em particular. A definição dos itens alimentares (número e tipo) deve estar condicionada a um teste piloto do questionário.

Dentre as vantagens da utilização do QFCA, cita-se o fato de poder ser aplicado em estudos com grande número de indivíduos e a sua utilidade na identificação de indivíduos com ingestão acima ou abaixo da distribuição da ingestão da população. Além disso, a variação intraindividual observada na ingestão dos alimentos, ao longo dos dias, é minimizada. Sua correlação com outros métodos é boa para alimentos e nutrientes específicos .
Ao aplicar o QFCA o tempo é economizado ao se focalizar a freqüência da ingestão de um número específico de alimentos ou grupos de alimentos, o que o torna também mais barato que os demais métodos. As formas de administração do QFCA incluem entrevistas pessoais ou por telefone ou ainda o auto preenchimento.
O QFCA tem sido comumente empregado em estudos epidemiológicos tipo caso-controle ou coorte, com o objetivo de estudar a associação entre ingestão dietética e risco de doença.

A maior limitação deste método reside na acurácia da quantificação da ingestão alimentar que não pode ser comparada à do R24h e do RCA. Além disso, informações sobre o consumo de alguns alimentos podem ser perdidas, pois, geralmente, no QFCA não são incluídos todos os possíveis itens alimentares. Desta forma, o grau de validade do instrumento deve ser estabelecido para cada questionário em particular e este é altamente dependente da lista dos alimentos e da porção de referência de cada item alimentar .

6) Como é realizado o História alimentar ou dietética (HA)? Quais suas vantagens e desvantagens?
A história alimentar consiste em extensa entrevista, realizada por um nutricionista, para obtenção de um padrão alimentar global .
O método da HA foi originalmente criado por Burke, em 1930, com o objetivo de estabelecer a ingestão habitual durante vários meses ou anos, baseando-se em informações coletadas do próprio entrevistado ou de seus pais. Esse método, após sofrer muitas variações em sua aplicação, inclui, hoje, três elementos: 1) entrevista detalhada sobre o padrão de alimentação, 2) uma lista de alimentos cuja freqüência e periodicidade do consumo alimentar é anotada e 3) um registro alimentar de 3 dias .

A utilização da HA permite uma descrição mais completa e detalhada dos aspectos qualitativos e quantitativos da ingestão dos alimentos. Sua correlação com outras medidas do estado nutricional é boa. De acordo com BLOCK (1989), este método ainda tem as vantagens de permitir a avaliação da ingestão habitual de todos os nutrientes, de não sofrer influência das variações sazonais na dieta e de não alterar as dietas habituais.
Dentre as desvantagens da utilização da HA, em estudos epidemiológicos, é possível citar: 1) a necessidade de um nutricionista treinado, 2) a dependência da memória do indivíduo, 3) os altos custos de análise, 4) o tempo necessário para obter dados é maior que outros métodos .

Autores

Dra. Suely Godoy Agostinho Gimeno Doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública –USP e Profa Adjunta do Departamento de Medicina Preventiva da UNIFESP - Escola Paulista de Medicina
Profa. Dra. Vera Lúcia Morais Antonio de Salvo Coordenadora do Curso de Nutrição da Universidade Metodista de São Paulo, Especialista em Nutrição Clínica pela São Camilo e em Teorias e Técnicas para Cuidados Integrativos pela UNIFESP, Mestre em Epidemiologia e Doutora em Ciências pelo Departamento de Medicina Preventiva da UNIFESP.

Os autores estão em ordem alfabética

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