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Pão Enriquecido Com Ferro na Prevenção da Anemia de Crianças Matriculadas em Creches da Prefeitura do Município de São Paulo

O objetivo do estudo foi verificar se o pão hot dog enriquecido com ferro, teria impacto positivo na concentração de hemoglobina e efetividade na prevenção da anemia. Avaliou-se 275 crianças, de 1 a 6 anos, de creches da PMSP, onde duas creches receberam, por 34 dias letivos, o pão enriquecido, e as outras duas, pão sem enriquecimento. Após este período, o grupo suplementado apresentou valor de hemoglobina significativamente maior (p=0,01) e queda de 21,0% para 12,6% na prevalência de anemia; já o não suplementado, valor de hemoglobina não significativo (p=0,83) e aumento de 13,6% para 18,2% na prevalência. Conclui-se que o pão enriquecido com ferro tem efeito positivo na concentração da hemoglobina e efetividade na prevenção da anemia ferropriva.

A anemia nutricional é um dos flagelos alimentares em praticamente todos os países, principalmente da América Latina, alcançando números bem significativos e está entre os maiores desafios para os países em desenvolvimento.

Anemia é a redução da taxa de hemoglobina circulante atribuída a condições patológicas, dentre as quais a deficiência de ferro é a mais comum (UNICEF/UNU/WHO/ MI, 1999), segundo publicado pelo Consenso Técnico do United Nations Administrative Committee on Coordination (atual United Nations System Chief Executives Board for Coordination) e Sub-Committee on Nutrition (atual Standing Committee on Nutrition).

A instalação da doença ocorre de maneira lenta e gradual, sendo diagnosticada quando, através de exames laboratoriais, ficar demonstrada a redução nos níveis de hemoglobina sérica a valores inferiores a 11 mg/dl (CDC, 1998), e hematócrito abaixo de 2 desvios padrão da referência considerada adequada (Fisberg & Braga, 1995).

No primeiro estágio ocorre depleção dos estoques de ferro. Nessa fase, o único parâmetro laboratorial alterado é o da ferritina, estando todos os outros normais, o que permite considerá-lo como um dos mais sensíveis parâmetros para medir o estoque de ferro. O segundo estágio envolve o transporte de ferro até a medula óssea, e é refletido através da diminuição do ferro sérico, do aumento na capacidade de ligação do ferro, da diminuição da porcentagem de saturação da transferrina e do aumento da dosagem da protoporfirina eritrocitária livre. E finalmente, no terceiro estágio, ocorre diminuição dos níveis de hemoglobina, com presença de hipocromia e microcitose (Dallmann et al., 1992; Bothwell et al., 1979; Cook, 1982; Johnson,1990).

Freqüentemente, os primeiros sinais e sintomas da anemia ferropriva são a fadiga, palidez, intolerância ao exercício e perda da produtividade.

Além desses sintomas, verificam-se efeitos sistêmicos e sobre o sistema nervoso central, incluindo desvio da atenção, irritabilidade, dificuldade para o aprendizado, os quais prejudicam o rendimento escolar e a habilidade intelectual (Watkins & Pollitt, 1998).

Os grupos mais vulneráveis à anemia ferropriva são as crianças, os adolescentes, as gestantes, as nutrizes e os idosos, destacando-se a maior prevalência em crianças menores de três anos de idade, devido o consumo alimentar insuficiente em ferro, tanto qualitativamente como quantitativamente, aumento do requerimento devido às necessidades do crescimento acelerado no primeiro ano de vida, desmame precoce e outros fatores associados, como a prematuridade, o baixo peso ao nascer, as infecções freqüentes e a infestação por ancilostomídeos.

De acordo com Fisberg et al., 2001, em levantamento bibliográfico realizado na base de dados Lilacs, foram encontradas prevalências elevadas de anemia em crianças menores de cinco anos no Brasil, variando de 25 a 68%. Esses estudos diferem entre si, em relação à faixa etária, tamanho amostral, seleção da amostra e objetivos da pesquisa, mas adotaram como ponto de corte o proposto pela Organização Mundial de Saúde, ou seja, Hb<11g/dl.

Ainda segundo Fisberg et al., 2001, em estudo realizado em 10 capitais brasileiras, numa amostra de 2.223 crianças, ficou demonstrado uma prevalência nacional de anemia em torno de 54%, com dados de maior prevalência na região Sudeste (53,7%), seguidos da região Sul (52,7%), Nordeste (44,5%) e Norte (34,3%), demonstrando o grave problema de saúde pública que representa.

Portanto, a anemia na infância é um grave problema de saúde pública, disseminado por todo o Brasil.

E, considerando que uma significante proporção de crianças na fase pré-escolar, passa o dia em instituições públicas denominadas “creches”, as quais oferecem cuidado não domiciliar, em período integral ou parcial, é fundamental garantir-lhes o acesso a uma alimentação adequada, que propicie a prevenção e o combate à anemia.

Sabe-se que a alimentação adequada, em quantidade e qualidade, possibilita a ingestão de todos os nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo, e é um dos principais fatores para a promoção da saúde e a redução dos riscos de doenças nutricionais.

As conseqüências destas doenças são inúmeras, tanto para o indivíduo como para o país, levando, principalmente, a não participação social, ao estigma associado com a incapacidade e a discriminação, ao aumento do desemprego, às perdas de horas e a diminuição da capacidade de trabalho, aos prejuízos na economia nacional, ao aumento dos custos com a saúde, ao aumento dos custos com a educação e as repetições escolares (The Micronutrient Initiative, 1997).

São várias as estratégias que podem ser utilizadas para assegurar a ingestão adequada de micronutrientes, como a melhora da qualidade da alimentação, incluindo o incentivo ao aleitamento materno nos primeiros seis meses de vida, a educação nutricional, a suplementação medicamentosa e o enriquecimento de alimentos.

Atualmente, em muitos países, incluindo o Brasil, existe uma concentração de esforços visando o enriquecimento de alimentos, relacionada ao agravamento das condições da saúde pública pelas deficiências de micronutrientes, a políticas governamentais e a fatores no mercado de produtos alimentícios.

Em países como o Canadá, Estados Unidos, Suíça e Reino Unido, o desaparecimento das deficiências de minerais e vitaminas tem sido decorrente do enriquecimento de alimentos (De Angelis, 2000).

Países como o Chile, Guatemala, Venezuela e El Salvador, utilizam alimentos enriquecidos com ferro a várias décadas e, dessa forma, conseguiram diminuir significativamente a prevalência da anemia ferropriva.

O incentivo aos programas de enriquecimento de alimentos vem sendo, portanto, considerado a melhor medida preventiva contra as carências de minerais e vitaminas, com menor custo, trazendo também, a grande vantagem de não exigir a cooperação dos beneficiários à proposta, pois, ao consumirem o alimento enriquecido, consomem o nutriente necessário.

Todavia, para obter-se êxito nestes programas de enriquecimento, o composto utilizado deve possuir boa disponibilidade de absorção pelo organismo e características tais que não mudem a cor e o sabor do alimento. E, o alimento enriquecido, deve ter baixo custo, ser de fácil acesso, pertencer à alimentação habitual da região e ter boa aceitação.

Observando estes preceitos, o pão foi selecionado para este estudo, por ser um alimento de baixo custo, diariamente consumido por brasileiros de qualquer faixa etária em, pelo menos, uma das refeições e, também, pela população atendida nos Programas de Alimentação gerenciados pela SEMAB. E o ferro aminoquelato que o enriqueceu, tem boa disponibilidade de absorção.

Portanto, o objetivo do estudo foi verificar se o pão tipo hot dog enriquecido com ferro aminoquelato, teria impacto positivo sobre a concentração de hemoglobina, e efetividade quanto à prevenção da anemia ferropriva, em crianças de 1 a 6 anos de idade. Estas crianças, matriculadas em quatro creches da Prefeitura do Município de São Paulo - PMSP, subordinadas à Secretaria Municipal de Educação, eram atendidas pelos Programas de Alimentação gerenciados pela Secretaria Municipal de Abastecimento - SEMAB que, através dos resultados obtidos, terá mais subsídios para continuar aprimorando tais programas, e implementar as medidas de combate à carência nutricional de ferro e de promoção da saúde da população atendida.

Autores

Dra. Eliana Pereira Vellozo Pós Graduanda pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Responsável Técnica da Assessoria de Programas Estratégicos em Nutrição e Saúde – SEMAB - Prefeitura do Município de São Paulo, Diretora Técnica da Nutrio-Assessoria em Nutrição e Qualidade de Vida
Dra. Rosmari da Silva Especialista em Educação em Saúde Pública pela Universidade Estadual de Ribeirão Preto, Nutricionista da Assessoria de Programas Estratégicos em Nutrição e Saúde – SEMAB - Prefeitura do Município de São Paulo.
Prof. Dra. Daniela Fagioli Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica, Título de Especialista em Saúde Coletiva, Mestre em Ciências, Docente orientadora da Universidade Paulista

Os autores estão em ordem alfabética

Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Nov/Dez/2003

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