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O Risco do Consumo de Ultraprocessados na Infância

Os alimentos ultraprocessados (AUP) passam por diferentes métodos e técnicas de processamento e, ao longo de sua cadeia de produção sofrem mudanças em sua composição, pela adição de diversos compostos químicos como: realçadores de sabor, corantes, aromatizantes, e edulcorantes, que melhoram seus aspectos sensoriais e aumentam sua vida de prateleira. Entretanto, por terem altas quantidades de aditivos e baixo valor nutricional, são os principais causadores de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) na idade adulta. O consumo de AUP têm se tornado cada vez mais frequente na população infantil, introduzindo de forma precoce alimentos altamente condimentados com adição conservantes, sais, açúcares e altos teores de gorduras, que causam, a curto e longo prazo, danos significativos na saúde de crianças, principalmente nos seus primeiros dois anos de vida, que por sua vez, pode levar a toxicidade devido a prematuridade de seu sistema metabólico. O consumo de AUP por crianças nos primeiros anos de vida está diretamente relacionado ao baixo nível socioeconômico e demográfico, contribuindo para o desenvolvimento de hábitos alimentares inadequados. Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi levantar evidências científicas sobre o risco do consumo de alimentos ultraprocessados na infância. A alimentação é compreendida como uma das atividades humanas de maior relevância, não somente pelo caráter biológico, mas também por considerar que os aspectos sociais, psicológicos e econômicos são fundamentais para a evolução das sociedades. A boa alimentação deve tornar-se um hábito desde os primeiros anos de vida, pois é fundamental no crescimento e desenvolvimento da criança, bem como é necessário pontuar as importantes repercussões para a saúde de inadequações alimentares na infância. Dentre os vários tipos de alimentação existentes, podemos destacar dois: a alimentação tradicional, que não possui restrições e a alimentação natural, que opta por alimentos naturais, minimamente processados e sem conservantes químicos. Os alimentos orgânicos utilizados nesse tipo de alimentação são mais benéficos pois fornecem nutrientes essenciais para o processo de desenvolvimento infantil. Os alimentos in natura são classificados como todos os alimentos de origem vegetal, por exemplo, hortaliças, cereais, leguminosas e frutas; ou animal, por exemplo, carnes, leite e ovos, no estado natural, sem nenhuma alteração. O consumo imediato exige apenas a remoção da parte não comestível e os tratamentos indicados para perfeita higienização e conservação. Os alimentos minimamente processados são aqueles submetidos a operações de limpeza, lavagem, seleção, descascamento, corte, embalagem e armazenamento, mas que apresentam qualidade semelhante ao produto fresco. O propósito desses alimentos é proporcionar ao consumidor um produto semelhante ao fresco com uma vida útil prolongada e, ao mesmo tempo, garantir a segurança do produto, mantendo a qualidade nutritiva e sensorial que está relacionada com a manutenção de suas características sensoriais, controle da microbiota contaminante e com a manutenção da qualidade. Os alimentos industrializados ou processados são os alimentos de origem vegetal ou animal que, para o consumo humano final, foram submetidos a diversas técnicas, como a remoção de partes não comestíveis, cocção, pasteurização ou branqueamento, além da adição de outras substâncias, que os tornam alimentos tecnologicamente modificados. Quase todos os alimentos que compõem a dieta do ser humano, de alguma forma, sofreram algum tipo de modificação antes do consumo. Alimentos ultraprocessados são formulações industriais prontas para consumo e feitas inteiramente ou majoritariamente de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, proteínas), derivadas de constituintes de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou sintetizadas em laboratório com base em matérias orgânicas (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e outros aditivos usados para alterar propriedades sensoriais). Os AUP possuem maior densidade energética, maior teor de açúcar livre e menor teor de fibra que alimentos in natura ou minimamente processados, mesmo quando se considera a combinação desses alimentos com ingredientes culinários como sal, açúcar e gorduras. Quanto à Legislação brasileira sobre os alimentos ultraprocessados, a portaria Nº 1.274, de 7 de julho de 2016, dispõe em seu Art. 5º no § 3º o seguinte: em caráter excepcional, a utilização de AUP será permitida apenas em preparações culinárias que contenham, em sua maioria, alimentos in natura ou minimamente processados. Segundo o Instituto A cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, foi pioneira na promoção de ambientes alimentares escolares mais saudáveis para a prevenção da obesidade infantil no município, ao sancionar no dia 6 de janeiro a lei 3766/2022, que prevê um conjunto de ações para a promoção de uma alimentação adequada e saudável para crianças e adolescentes da cidade. No ano de 2020 surgiram alguns projetos de lei que visaram minimizar o consumo de ultraprocessados e regras quanto a sua venda. O projeto de lei 4061/20 tornou obrigatório que as embalagens de alimentos processados e ultraprocessados tivessem a seguinte mensagem de advertência: "Este alimento é processado. Prefira alimentos frescos ou minimamente processados, pois são mais saudáveis ". Projeto de Lei -PL 4.501/2020, que propôs a proibição da venda de alimentos e bebidas ultraprocessados em cantinas escolares, como também da venda de frituras e alimentos preparados com gordura hidrogenada (a gordura trans) nesses locais. Estes Projetos de Lei, apesar da grande relevância para a preservação da saúde infantil, ainda estão em processo de apreciação. O Projeto de Lei 239/2022, que ainda está em tramitação, criou regras para a propaganda e a venda de alimentos ultraprocessados ou com altos teores de açúcar, como também propôs a proibição da propaganda incisiva de incentivo ao consumo de AUP com grande quantidade de açúcar ou atribua a eles benefícios à saúde, ao crescimento ou ao desenvolvimento de crianças e adolescentes. Alimentos Ultraprocessados e Saúde Na busca por maior praticidade, na maioria das vezes, as pessoas acabam fazendo a substituição de alimentos convencionais por alimentos ou bebidas já preparados sendo estes altamente processados, além da facilidade para consumir, outro ponto em que esses alimentos se destacam é pelo seu menor custo em relação os in natura. Os AUP são, em sua maioria, ricos em amidos refinados, sal, açúcares e gorduras tendo uma alta carga glicêmica, além de serem vendidos em porções maiores do que o necessário, sendo estrategicamente preparados para possuir um sabor altamente atrativo, o que incentiva um maior consumo. Estudos mostraram conexões positivas quanto ao consumo de ultraprocessados e o risco de sobrepeso e obesidade, além de doenças relacionadas como hipertensão, diabetes e câncer. O Ministério da Saúde publicou dados de um relatório do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, que indicou que até 2022 mais de 340 mil crianças com idades de 5 a 10 anos, acompanhadas pela Atenção Primária à Saúde, foram diagnosticadas com obesidade. A obesidade pode trazer consequências como um maior risco para desenvolvimento de DCNT, elevação da insulina plasmática, hipertensão arterial, e diversas alterações no perfil lipídico. Ademais, uma criança com sobrepeso tem grandes chances de se tornar um adulto obeso o que pode implicar negativamente na qualidade de vida, afetando não somente a condição física, mas também aspectos psicológicos, cognitivos e socioculturais. É importante ressaltar que devido a imaturidade fisiológica, as crianças se tornam suscetíveis às ações dos aditivos químicos presentes nos alimentos, pois estes contêm substâncias não metabolizáveis que podem ser excretadas de forma inadequada pelo organismo da criança o que pode resultar em efeitos tóxicos. No caso de corantes artificiais já foi constatado quanto a sua associação com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), além de serem cancerígenos e causar irritação na pele podendo agravar para dermatite alérgica. Além das interações previamente expostas, pode-se abordar também que a ingestão de uma dieta pobre em fibras, micronutrientes e antioxidantes também vão afetar de forma geral o estado imunológico, prejudicando a defesa do organismo contra patógenos e, ainda, por possuir na sua composição ingredientes como adoçantes artificiais, emulsificantes e aditivos que estão relacionados com processos inflamatórios de diversas patologias devido alterações no microbioma humano. Determinantes das Escolhas Alimentares na Infância e Consumo de Ultraprocessados O binômio da urbanização e da industrialização atua como fator determinante predominante na modificação dos hábitos alimentares, gerando modificações no estilo de vida de praticamente toda a população. A alimentação atual é profundamente diferente dos nossos antepassados, que viviam em contato com a natureza e alimentos mais naturais, utilizando tudo oferecido pela natureza: animais abatidos, folhas, gramíneas, frutas, raízes, dentre outros. Atualmente, diante da grande variedade de opções e da grande de facilidades e praticidade na aquisição de produtos alimentícios industrializados, associada à falta de tempo e a praticidade em consumo e manuseio que é fornecida, é possível delinear e caracterizar os novos hábitos alimentares da população brasileira. O grande avanço das tecnologias que surgiram ao longo dos anos, traz boas e más consequências para o estilo de vida e para hábitos alimentares, visto que o mesmo sofreu grande alteração e influências variadas, sobretudo no que diz respeito à troca de alimentos caseiros e naturais por alimentos minimamente processados e super calóricos. Assim vários fatores estão relacionados a estas mudanças, onde pode-se destacar o desenvolvimento econômico e social, a influência da publicidade e marketing, a globalização, a qualidade de vida nos grandes centros urbanos e a maior participação da mulher no mercado de trabalho. Todos os processos envolvidos na escolha alimentar, ocupam um papel central na promoção e prevenção e no tratamento de doenças durante a infância e na fase adulta, ao mesmo tempo em que é importante para o crescimento e desenvolvimento motor e cognitivo, pode também representar um dos principais fatores de prevenção de DCNT na fase adulta. As preferências alimentares são formadas ao longo dos anos, pelos sistemas de socialização culturais, palatabilidade e limitadas pela contingência do ambiente físico, e social, fatores socioeconômicos. Amiudadamente a família, os fatores sociais e ambientais podem influenciar o padrão alimentar das crianças e refletir até sua fase adulta. Todavia, a alimentação escolar tem como objetivo suprir parcialmente as necessidades nutricionais dos alunos, levando a melhorias na capacidade no processo ensino e aprendizagem e estruturação na formação de bons hábitos alimentares. Assim, o ambiente escolar desempenha grande influência na formação de hábitos alimentares e estilo de vida saudáveis, visto que as crianças em idade escolar que frequentam a escola/creche acabam estando maior parte das refeições nos ambientes escolares. Com instruções necessárias a criança desenvolve atitudes e hábitos que visem a melhoria da saúde e aquisição de hábitos saudáveis. Alimentação equilibrada e controlada contribui para o desenvolvimento da criança, tanto na escola como em hábitos familiares, contribuindo de forma importante no desempenho melhorando os níveis de atenção, concentração, aprendizado, memória, capacidade física, energia necessária para trabalhar o cérebro. Quanto ao consumo de alimentos processados e ultraprocessados na infância tem se tornado cada vez mais frequente, a exposição precoce a alimentos industrializados com altos teores de açúcares, gorduras e aditivos alimentares, podem causar a longo prazo, complicações no desenvolvimento infantil e o surgimento de DCNT. Sendo assim, tendo como objetivo a redução do consumo de alimentos hipercalóricos e de baixo valor nutricional, é recomendado pelo Ministério da Saúde que crianças sejam conduzidas a uma alimentação saudável desde a alimentação complementar, dando prioridade ao aleitamento materno indicado até aos 2 anos de idade ou mais, e de forma exclusiva até aos 6 meses de idade. A introdução alimentar iniciada após o 6º mês de idade, quando realizada de forma correta, pode contribuir significativamente para a redução do consumo de alimentos industrializados na idade adulta. Trabalhar as escolhas alimentares no momento das refeições, através de atividades sensoriais, é de suma importância na formação das preferências alimentares, isso permite que a criança tenha contato com os alimentos de diversas maneiras. É importante oferecer às crianças diferentes tipos e cores de alimentos in natura ou minimamente processados, essa prática contribui para estímulo do consumo, principalmente de frutas, legumes e verduras a fim de desenvolver a seletividade alimentar e promover o desenvolvimento do consumo de alimentos saudáveis. Este momento é de fundamental importância pois é a partir daí que os hábitos alimentares começam a se estabelecer. Em busca de avaliar a ingestão de AUP em crianças, e verificar se há associação com o contexto socioeconômico e demográfico, evidenciou-se que a introdução de AUP foi frequente em crianças com idade entre 1 e 2 anos, predominantemente oriundas de famílias de baixa renda, beneficiários de algum tipo de auxílio governamental. Esclareceu também acerca da necessidade da assistência e cuidado, por parte de órgãos e equipes de saúde, na promoção de ações direcionadas à alimentação, com a finalidade de possibilitar ao contexto familiar o conhecimento sobre os diversos tipos de alimentos, necessário para guiar as escolhas alimentares proporcionando escolhas adequadas e saudáveis, minimizando consumo de ultraprocessados, principalmente na infância. O consumo de alimentos ultraprocessados está presente precocemente na alimentação das crianças, substituindo alimentos considerados naturais e saudáveis. Foram identificados como fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados, a influência do ambiente familiar, escola e a urbanização. Foi observado que o consumo de ultraprocessados na infância, com a oferta de alimentos considerados como não saudáveis é considerado um fator de risco para a redução da duração e frequência do aleitamento materno, como também a formação de hábitos alimentares e predisposição para a obesidade e o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta. Dessa forma fica evidente a importância de ações de sensibilização para os tutores das crianças sobre o perigo oferecido pelo consumo de alimentos ultraprocessados para a saúde infantil, como também a realização de ações educativas no ambiente escolar, com vistas a contribuir para o incentivo de práticas alimentares mais saudáveis na infância, e assim garantir o adequado crescimento e desenvolvimento das crianças, como a prevenção de doenças na idade adulta. Autores Antonio Valdeir Lopes da Silva; Francisca Raila Alves Roque; Katarina Aires Barreto de Oliveira; Laisa Estevão e Silva; Maria Gabryelle Ferreira - Discentes do Curso Bacharelado em Nutrição da Universidade Federal do Piauí – CSHNB Profa. Dra. Regina Márcia Soares Cavalcante – Nutricionista. Especialista em Saúde Pública. Mestre em Ciências e Saúde. Doutora em Alimentos e Nutrição. Professora Adjunta do Curso de Nutrição da Universidade Federal do Piauí – CSHNB

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