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Análise Nutricional do Consumo Alimentar de Fisiculturistas Amadores e Profissionais do Vale do Itajaí - Santa Catarina.

O fisiculturismo é um esporte no qual os competidores são avaliados de acordo com o seu corpo físico através de alguns critérios, sendo eles: tamanho do músculo, corpo, simetria e definição muscular. O período de pré competição (pre contest) envolve alterações de treinos e práticas nutricionais para reduzir os níveis de gordura corporal enquanto busca-se o máximo possível de massa muscular. Já no período em que os atletas não estão em competição é chamado de off season, o qual o atleta passa o seu maior tempo, com o principal objetivo de aumentar a massa muscular enquanto minimiza o aumento da massa gorda.

Além da falta de informações sobre as recomendações calóricas durante o período off season na literatura, também há poucas informações sobre a qualidade nutricional da dieta durante o pre contest, sejam elas amadoras ou profissionais, para atletas de fisiculturismo. Desta forma, este trabalho tem por objetivo verificar a qualidade nutricional das dietas durante os dois períodos (off season e pre contest) de atletas profissionais e amadores de fisiculturismo do Vale do Itajaí - SC.

Trata-se de um estudo quantitativo e transversal, realizado com atletas de fisiculturismo amador ou profissional do Vale do Itajaí - SC. A amostra foi constituída por 22 indivíduos de ambos os sexos. Não participaram da pesquisa indivíduos com idade inferior a 18 anos, atletas que não completaram corretamente o Recordatório 24 horas aplicado ou o questionário.

Os atletas responderam um questionário que constava de dados como sexo, idade, peso, altura, fase de treinamento; categoria de competição, tempo de prática de fisiculturismo; hormônios ou estimulantes utilizados, como também o recordatório de 24 horas (R24h) e a ingestão de bebidas.

Para avaliar a ingestão energética, de macronutrientes, micronutrientes e hidratação dos participantes, além do R24h, também foram utilizados para o cálculo o whey protein e/ou creatina, quando relatado o uso. A partir dos dados obtidos, foram utilizadas as diretrizes da Dietary Reference Intakes (DRIs) como recomendação de necessidade energética e recomendação de macronutrientes (em percentual por nutriente) e micronutrientes (considerou-se adequado quando este ficou entre 80-120% e abaixo da UL). Para avaliação da adequação energética foi utilizada a fórmula da EER (Estimated Energy Requirement) (IOM, 2005), uma fórmula para a população em geral, com fator atividade intenso (1,45 para mulheres e 1,48 para homens), assim como a fórmula de Tinsley (P) (2018), que é específica para fisiculturistas, também com fator atividade física intenso (1,725), a título de comparação entre os valores.

Participaram do estudo um total de 22 atletas (9 mulheres e 13 homens), 11 indivíduos estavam no período de off season, sendo 5 mulheres 6 homens e 11 participantes em pre contest, sendo 4 mulheres e 7 homens. A média de idade encontrada foi de 29 anos e a média de peso foi de 86 kg com o de 4,45 L/dia de água no off season e 82,84 kg com o consumo de 4,95 L/dia de água no pre contest.

Na fase de pre contest a maior parte dos participantes encontrava-se em déficit calórico, de mais de 1000 kcal, apresentando consumo inadequado de energia. Apenas um participante estava em superávit calórico, de acordo com a fórmula da EER, com o consumo de 4.386 kcal diária. No off season, pode-se perceber também um déficit calórico (na média de 400 kcal a menos do recomendado) na maior parte dos participantes. Apenas três indivíduos ingeriram quantidade calórica adequada para sua necessidade e três indivíduos estavam em superávit calórico (acima de 4.400 kcal).

Apenas 7 participantes (31,81%) apresentaram ingestão de carboidratos dentro do recomendado conforme as DRIs (2019), entre 45%-65% do VET, sendo que 6 participantes estavam no período off season e 1 participante no período de pre contest. Um participante (4,54%) do período de pre contest apresentou ingestão de 0-20% de carboidratos. 9 entrevistados (40,90%) apresentavam ingestão diária entre 20-35% do VET de carboidratos, sendo 2 entrevistados no período de off season  e 7 entrevistados no período de pre contest. Cinco participantes (22,72%), sendo 3 do período de off season e 2 do período de pre contest apresentavam ingestão entre 35-45% de carboidrato.

Entre os participantes, 27,27% apresentaram consumo adequado de proteínas entre 10-35% do VET conforme o recomendado pelas DRIs (2019), sendo 5 participantes em período de off season e 1 participante em período de pre contest. No entanto, 40,90% dos entrevistados consumiram proteína entre 35-45%, sendo destes participantes, 4 no período de off season e 5 no período de pre contest.  Já 31,83% dos participantes estavam consumindo proteína acima de 45% do VET, sendo 2 participantes em off season e 5 participantes em pre contest. Ainda, avaliando o consumo de proteínas em g/kg/dia, a média de proteína consumida na fase de off season e na fase pre contest foi de 2,79 g/kg/dia.

O consumo de lipídios de maior parte dos participantes mostrou-se adequado entre 20-35% do VET, totalizando 63,64% (n=14), dentro os quais, 6 participantes estavam no período de off season e 8 participantes no período de pre contest. Oito participantes mostraram-se com dieta hipolípidica (36,36% da amostra), destes 5 em off season e 3 em pre contest.

A vitamina A se encontrou dentro dos parâmetros estabelecidos como ideais no período de off season, com um percentual de 117,88% e acima do valor ideal na fase de pre contest com um percentual de 194,90%, porém abaixo da UL. A vitamina B3 estava acima dos valores estabelecidos como adequados, pois ultrapassou a UL nos dois períodos, sendo esse consumo considerado possivelmente tóxico para o organismo. Pode-se notar, que na fase de off season, o consumo de todas as vitaminas foi mais elevado.

Foi possível observar que o sódio se encontrou adequado no pre contest, porém acima do valor de adequação para os minerais (80-120%) no off season. Notou-se que o cálcio estava em quantidades insuficientes em ambas as fases, com um percentual de adequação de 69,15% na fase de off season e 46,42% na fase de pre contest.

As demais vitaminas e minerais encontraram-se dentro dos valores ideais preconizados, sendo de 80% a 120% dos valores da EAR.

No que se refere aos suplementos utilizados pelos atletas, a grande maioria referiu ingerir creatina e whey protein, ambos consumidos por 54,54% (n=12) dos indivíduos.

Todos os participantes da pesquisa relataram fazer uso de anabolizantes, tanto no período off season quanto no período de pre contest. Em sua maioria, os atletas fazem utilização de mais de um tipo de anabolizante combinado, com variações de tempo de utilização.
 
A etapa de off-season (fase da hipertrofia ou bulking), período sem competição, caracteriza-se pela busca do desenvolvimento muscular máximo associado a altas intensidades de treinamento com peso e ingestão calórica acima do necessário para manter o peso corporal (superávit calórico). O pre contest (fase da definição ou cutting), é o período em que os fisiculturistas estão preparando-se para competição, com o objetivo de redução de gordura corporal e eliminação de líquido subcutâneo. Nesta, ocorre diminuição da ingestão calórica, principalmente dos carboidratos, e manutenção do consumo de proteínas.

Neste estudo, a média de ingestão calórica no período off season e no pre contest, mostrou-se abaixo do recomendado tanto quando utilizada a média de valores da EER (IOM, 2005) quanto pela média da fórmula de Tinsley, que é específica para fisiculturistas, tendo uma queda significativa no período que antecede o campeonato. Porém, algumas fórmulas para cálculos energéticos são limitadas em algumas situações, podendo subestimar ou superestimar as necessidades energéticas. Vale lembrar ainda que, em sua maioria, fisiculturistas fazem a utilização de hormônios, o que pode causar o aumento do metabolismo e consequentemente as necessidades energéticas.

Alguns atletas relataram que já tomaram até 15 litros de água por dia. Em contrapartida, no dia da competição, ficaram o dia inteiro sem beber uma gota de água. A média diária de ingestão oral de água, pelo adulto, é de em torno de 30 a 40 ml/kg (no mínimo) de peso corpóreo ou de 1.500ml a 3.000ml. Seguindo a recomendação, para os atletas em off season, a recomendação mínima de ingestão hídrica diária seria de 3.000ml (86kgx35ml), já no pre contest a recomendação mínima seria de 2.900ml (82,84kgx35ml). A água é fundamental para manter a musculatura cheia durante a reposição dos estoques de glicogênio muscular. Ao fazer uma desidratação muito drástica, o indivíduo acaba comprometendo o volume muscular, podendo subir totalmente diferente do esperado no palco (em estado flat, ou murcho).

A recomendação para a ingestão de carboidratos varia entre 45% e 65% (IOM, 2019). Neste estudo, menos da metade dos participantes (31,81%) apresentaram ingestão de carboidratos dentro do recomendado, estando em sua maioria no período off season. Os demais participantes estavam consumindo quantidades menores do recomendado diário para carboidratos, principalmente na fase próxima a competição (pre contest). Dietas restritivas em carboidratos levam a uma depleção de glicogênio e uma vez quase esgotadas essas reservas, o organismo já começa a usar proteínas dos tecidos, principalmente do tecido muscular e a proteína advinda da dieta, para satisfazer suas necessidades energéticas, uma vez que as reservas de gordura, que também poderiam ser utilizadas, estão também defasadas em atletas de fisiculturismo. O resultado é a perda da massa muscular. Segundo as DRIs (2019), o consumo adequado de proteínas está entre 10-35% do VET e no presente estudo foi verificado que 72% dos participantes apresentaram consumo acima de 35%, sendo que 10 destes participantes estavam no período pre contest e 6 no off season. A média de proteína consumida em ambas as periodizações dos atletas foi de 2,79 g/kg/dia, bem acima do recomendado pela literatura científica.

O consumo de lipídios de maior parte dos participantes mostrou-se adequado, variando entre 20-35% do VET. Apenas oito participantes mostraram-se com dieta hipolípidica, destes 5 em off season e 3 em pre contest. A gordura é essencial para muitas funções no corpo. Elas são importantes fontes de energia, são os principais constituintes das membranas celulares, precursora da Vitamina D e dos hormônios esteróides (testosterona, estrogênio e cortisol), além de ser constituinte da bile.

Alimentação saudável e adequada é a base para nutrição do atleta que visa ao alto rendimento. Quando a alimentação está equilibrada, o aumento da oferta de vitaminas e minerais é proporcional ao aumento do consumo energético, fato que normalmente garante fornecimento adequado desses micronutrientes. Este fator pode ser percebido através da maior ingestão de micronutrientes na fase de off season, visto que esta fase tem um consumo energético maior, do que quando comparada com a fase de pré contest, na qual há um consumo menor de calorias e consequentemente de micronutrientes.

Os atletas estudados mostraram um consumo adequado da maioria dos micronutrientes e isso pode se relacionar com o alto consumo energético (média maior de 2000 kcal ao dia) mesmo que este consumo não esteja adequado para o devido gasto calórico. O que difere de muitos estudos anteriores, que observaram deficiências na ingestão de micronutrientes, como vitamina D, cálcio, zinco, magnésio e ferro, em dietas de atletas de fisiculturismo.

Contudo, a ingestão de alguns micronutrientes neste estudo apresentou-se em discordância com as recomendações pertinentes na literatura, sendo eles o cálcio (insuficiente) e a vitamina b3 (em níveis acima da UL).  A oferta insuficiente e crônica de cálcio, aumenta o risco de osteoporose, doença que causa desmineralização óssea.

Uma possível explicação para a ingestão de niacina dos atletas estar acima da UL, é pela vasta presença dela em quase todos os alimentos na dieta de off season e pre contest, além da alta ingestão calórica. A suplementação ou o excesso de niacina pode trazer prejuízos, conforme resultado de muitas pesquisas. Essa conduta pode bloquear a liberação de gordura do tecido adiposo, levando à utilização prematura dos depósitos de carboidrato e à depleção do glicogênio muscular, afetando também o desempenho aeróbico. O excesso desta vitamina pode causar também danos ao fígado.

Os suplementos de proteínas e aminoácidos são comumente utilizados entre os fisiculturistas. A maioria dos atletas acreditam que os suplementos podem trazer benefícios que ajudariam nos resultados estéticos e desempenho desejado para o dia da competição. Nesta pesquisa o suplemento mais citado foi o whey protein. O whey é o suplemento proteico mais utilizado por atletas e praticantes de musculação. Este suplemento é fonte de proteína de alta qualidade, alto valor biológico, rico em aminoácidos essenciais, principalmente os BCAAs. É uma proteína de absorção rápida e com maior potencial para elevação da síntese proteica muscular, devido ao seu alto teor de leucina. Em seguida, outro suplemento que os atletas utilizam em grande escala é a creatina. Sua suplementação oral favorece o desempenho em exercícios de alta intensidade, aumentando a massa muscular e a força muscular. É associada a um significativo incremento de força.
    
Diante dos dados mencionados pode-se notar que em ambas as fases da competição os atletas em sua maioria estavam em déficit calórico, o que pode estar ligado diretamente a baixa ingestão de carboidratos e em alguns casos com a falta de gordura. Os atletas avaliados demonstraram preferir as estratégias nutricionais de dieta hiperproteica, hipoglicídica (low carb) e hipolipídica (low fat). Em relação ao consumo de micronutrientes, apenas o cálcio e a vitamina b3 estavam fora do recomendado pelas DRIs, sendo cálcio insuficiente e niacina acima dos limites de toxicidade.

O consumo hídrico dos participantes se encontrou adequado em ambos os períodos. Verificou-se uso frequente de suplementos, especialmente whey protein e creatina e de esteroides anabolizantes pelos atletas.

Acredita-se que seria necessário um período maior de acompanhamento destes atletas para uma averiguação mais fidedigna ao plano alimentar e estratégias utilizadas tanto no off season quanto no pre contest.

Autores

Camila Dias Peruck; Maria Eduarda Winter - Acadêmicas do Curso de Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

Profa. Dra. Giovana Vechi – Nutricionista. Doutora em Ciências Farmacêuticas. Docente do Curso de Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

Profa. Dra. Taren Beatriz Ferreira Leite de Oliveira – Nutricionista. Mestra em Saúde. Docente do Curso de Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

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