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Uso da Mucuna Pruriens no Tratamento da Doença de Parkinson

Como consequência da transição demográfica, a população idosa tem aumentado e os casos de doenças crônicas e degenerativas também, uma vez que os idosos são os mais acometidos. Um exemplo deste tipo de enfermidade é a doença de Parkinson (DP), que afeta aproximadamente 2% da população com 65 anos e 5% acima de 85 anos. De 1990 a 2015, o número de pessoas diagnosticadas com a DP dobrou para mais de 6 milhões” e infelizmente a estimativa é de que esse aumento continue. A DP é caracterizada pelas desordens motoras, cognitivas e emocionais, decorrentes da deficiência de dopamina no cérebro. Para corrigir este quadro, utiliza-se a L-DOPA ou Levodopa (LD), aminoácido aromático que é capaz de atuar como precursor da dopamina no sistema nervoso central. Entretanto, este tratamento é apenas sintomático.
Visando o controle da sintomatologia da doença, novas abordagens terapêuticas vêm sendo estudadas, inclusive no campo da fitoterapia e é nesse contexto que se insere a Mucuna pruriens (MP). Dentre os compostos presentes em MP, destaca-se a LD, que quando comparada à sintética, apresenta efeito farmacocinético promissor, e que possivelmente pode diminuir os efeitos adversos do tratamento padrão, em associação com os demais compostos que conferem atividade neuroprotetora.
O presente trabalho consistiu em uma revisão da literatura, do tipo narrativa. Como fonte de pesquisa, foram utilizadas publicações contidas nas seguintes bases de dados: PubMed, Scielo, Google Acadêmico, Science Direct e Biblioteca Virtual em Saúde. Integraram este trabalho, documentos publicados nos últimos doze anos.

Caracterização da Mucuna pruriens

O gênero Mucuna pertence à família Fabaceae e contém aproximadamente 150 espécies distribuídas pelo mundo. A espécie Mucuna pruriens (MP), também conhecida como Feijão de veludo, Feijão-da-flórida ou cowitch, é nativa de regiões tropicais e pode ser caracterizada como uma leguminosa trepadeira, com ramos longos e flores roxas. As vagens são recobertas por pelos alaranjados que causam irritação quando em contato com a mucosa, devido à presença da protease Mucunaína, que possui a capacidade de indução ao prurido, explicando o nome “pruriens”. Devido ao clima, a MP pode ser facilmente cultivada no Brasil, nas regiões Norte e Nordeste durante todo ano e nas demais regiões durante a primavera-verão.
A MP já era utilizada na medicina Ayurveda, graças às alegações sobre as suas múltiplas propriedades, como por exemplo: atividade anti-helmíntica, antioxidante, tratamento de distúrbios do sistema urinário, constipação e desordens neurológicas, como a DP. Ademais, as sementes de MP contêm amido, minerais, proteínas e ainda, compostos fenólicos, flavonóides, taninos e alcalóides.

Caracterização da doença de Parkinson

O primeiro relato científico da doença de Parkinson (DP) foi feito em 1817, através de um estudo de 66 páginas chamado “An Essay on the Shaking Palsy” (em português: “um ensaio sobre a paralisia dos tremores”) publicado pelo médico britânico James Parkinson. Por este feito, em 1860 a “paralisia dos tremores” foi intitulada como doença de Parkinson.
Somente 10-15% dos casos são de origem genética familiar, sendo o restante de causas desconhecidas. Até o momento, suspeita-se que a DP não-genética seja resultante de uma junção fatores desfavoráveis, como exposição à toxinas ambientais, lesões causadas por traumas, infecções virais e bacterianas, dentre outros. Evidências recentes têm apontado para a neuroinflamação e o estresse oxidativo como fatores determinantes na patogênese da DP. O acúmulo de metais pesados no sistema nervoso central (SNC), bem como a presença de ferro nos neurônios, sob a forma redox, pode induzir a peroxidação lipídica, gerando estresse oxidativo e dano ao DNA. O aumento da metabolização de dopamina no SNC de pacientes parkinsonianos, pode ser responsável pela retenção de radicais hidroxila, que são tóxicos e culminarão em mais estresse oxidativo e morte de células dopaminérgicas.
A DP é caracterizada pela morte progressiva de neurônios dopaminérgicos, presentes na substância negra (SN), localizada no mesencéfalo. Esta perda causa a despigmentação da SN, um marcador da doença, identificável em exames de imagem. Associado a este evento está a presença dos corpúsculos de Lewy, estruturas proteicas presentes no interior das células nervosas, que impedem a produção de dopamina no corpo estriado.  
A dopamina é o neurotransmissor responsável pelo controle motor, e é com a degeneração dos neurônios dopaminérgicos que surgem os sintomas característicos da DP, como: tremor de repouso, instabilidade postural, rigidez e bradicinesia. No entanto, já foi constatado que neurônios periféricos (e não-dopaminérgicos) também podem ser atingidos, causando sintomas não relacionados ao sistema motor, como a depressão, constipação, demência, alterações olfativas, dentre outros.

Tratamento farmacológico padrão

No início da década de 70, a L-3,4 dihidroxifenilalanina, chamada de L-DOPA ou Levodopa (LD), se estabeleceu no meio farmacológico e até os dias atuais é vista como o tratamento padrão-ouro na DP, devido à sua capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica (BHE) e, no papel de precursora da dopamina, ser capaz de aumentar as concentrações dela no sistema nervoso central (SNC), atenuando os sintomas clínicos. A LD apresenta boa absorção, porém têm baixa biodisponibilidade devido à alta descarboxilação periférica, que promove síntese de dopamina fora do SNC. Diante disto, a administração do fármaco deve ser associada a um inibidor das enzimas periféricas dopa-descarboxilase (DDCI) ou catecol-O-metitransferase (COMT), para impedir que a LD seja descarboxilada nos tecidos antes de atingir a célula-alvo. O uso contínuo de LD traz efeitos adversos a longo prazo e os pacientes portadores da DP vivenciam, ao longo do tratamento, o chamado “fenômeno ON/OFF”, que é caracterizado por um período onde há resposta à LD (ON) e outro onde não há resposta (OFF). Como a terapia com LD não alcança o resultado esperado, doses maiores da medicação são requeridas para que a resposta clínica desejada seja atingida.

Uso da Mucuna pruriens no tratamento da DP

Além da presença de fitoquímicos, as sementes de MP contêm aproximadamente 4-5% de LD (SINGH; YADAV; RAI, 2016). Já o extrato de MP em cápsulas contém em média 45mg de L-DOPA para cada cápsula de 300mg. Todas as partes de MP contêm LD, mas é nas sementes secas que se concentra a maior parte.
Embora a presença de LD natural e sua superioridade em relação à LD sintética seja o principal atributo que qualifica o extrato das sementes de MP como possível fitoterápico para o tratamento, a presença de fitoquímicos também deve ser considerada, uma vez que estes são reconhecidos por sua atividade antioxidante e quelante de metais. Possivelmente, o potencial neuroprotetor de MP deve-se a este fato, já que esses compostos são capazes de atravessar a BHE e atuarem no tecido cerebral.

Através desta revisão, verifica-se que Mucuna pruriens, a leguminosa nativa dos trópicos, apresenta atributos, como a presença de levodopa somada a substâncias antioxidantes e neuroprotetoras, que a qualificam como um fitoterápico promissor a ser inserido no tratamento da doença, uma vez que o número de pacientes diagnosticados aumenta a cada dia e o tratamento padrão não se mostra tão eficaz em refrear a sintomatologia característica.
Apesar de seu uso na medicina milenar indiana, fazem-se necessárias mais análises para determinação da forma de apresentação mais eficaz, visto que os estudos analisados trabalham com processamentos diferentes e, ainda, dos efeitos da administração de Mucuna pruriens, em cada estágio da doença e a longo prazo, para que o fitoterápico se estabeleça no meio farmacológico com uma dosagem padronizada, eficiente e segura, oferecendo qualidade de vida para os portadores da doença de Parkinson.

Autores

Amanda Araujo da Silva – Nutricionista pela Universidade Castelo Branco.

Profa. Dra. Aline Mota de Barros Marcellini – Nutricionista pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Alimentos e Nutrição.  Doutora em Ciência de Alimentos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Docente de Cursos de Graduação em Nutrição.

Profa. Juliana Moreira Martins Brascher – Nutricionista. Mestre em Nutrição Clínica pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Nutricionista Clínica na Força Aérea Brasileira. Docente de Cursos de Graduação em Nutrição.

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