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Obesidade: França, Estados Unidos e Sertão do Brasil

1) Podemos afirmar que a subnutrição é um problema mais grave do que a obesidade no Brasil?
É comum afirmar-se, no Brasil, que a subnutrição é um problema mais grave do que a obesidade. Não é, se considerarmos que ambos são extremamente maléficos, em conseqüências, para o organismo humano. Em maio e junho de 2000 pesquisadores da Universidade de São Paulo percorreram 12 mil quilômetros, pelo Brasil Central, entre Belém e o Rio de Janeiro, com o objetivo de detectar eventuais distúrbios de tireóide.

E chegaram a uma importante conclusão paralela: o número de crianças subnutridas ou desnutridas caiu para menos de 2%. Essa parcela não era formada por vítimas da fome propriamente dita mas sim por vítimas de maus tratos em casa ou doenças como a verminose, bronquite asmática, diarréia crônica, etc. Para contrariar ainda mais as idéias pré-concebidas sobre a desnutrição dos brasileiros, 19% das crianças examinadas já mostravam excesso de peso e 11% eram obesas.

2) Os brasileiros estão tendo mais acesso aos alimentos?
Se, de fato, na última década, o brasileiro teve mais acesso aos alimentos, isso não significa que essas crianças comiam demais levadas pela gula. Significa, sim, que herdaram uma tendência mais acentuada para armazenar gorduras. Neste aspecto, portanto, as crianças da zona rural do Brasil Central se comportam exatamente como as das grandes capitais.

3) Como podemos explicar o paradoxo encontrado na França com relação a obesidade?
Na França, o verdadeiro paraíso da gastronomia, mas, à primeira vista, o lugar menos indicado para quem deseja uma alimentação saudável: usa-se gordura de ganso para frituras; a manteiga está presente desde a baguete matinal até os queijos gordos depois do jantar e há ainda muito creme de leite, muitos frios e patês, além de uma infinidade de molhos. No entanto a taxa de obesidade na França é uma das menores da Europa e a incidência de infartos está na faixa de 40 infartos por 100 mil habitantes. No Estados Unidos, essa incidência é de 400 infartos.

4) Qual a diferença entre a conduta dos americanos e franceses no momento da alimentação?
Os americanos se alimentam em fast-foods, falando ao telefone, de olho no relógio. Na França, senta-se à mesa, toma-se vinho, faz-se da refeição um ritual. Explico: o que interessa não é o que o indivíduo come e sim o que ele absorve do que come. Gorduras e carboidratos são facilmente assimilados pelo sistema digestivo, mas o mesmo não acontece com as proteínas da carne, que precisam de uma boa mastigação. Ou seja, quem come de qualquer jeito deixa de lado as proteínas que engordam pouco para absorver toda a gordura e carboidratos que engordam muito.

5) Qual é o processo fisiológico que ocorre em nosso organismo quando nos alimentamos?
Quando comemos nosso estômago produz uma substância que “avisa” ao nosso cérebro para desativar o centro nervoso que regula a sensação de fome. O problema é que o processo é demorado e, por exemplo, quando o cérebro recebe a informação de que você está comendo, já se pode estar no segundo sanduíche, quando poderia se ter parado no primeiro, se estivéssemos comendo “à francesa” e não da maneira americana.

6) O que está ocorrendo com os hábitos alimentares dos brasileiros?
No Brasil, os hábitos alimentares que antigamente se pareciam com os hábitos franceses estão se aproximando cada vez mais do modelo americano. Por sorte, o nosso cardápio tradicional, a partir do arroz, feijão, bife e salada, é muito bem balanceado. Mas, ainda assim, estamos nos assemelhando mais e mais aos americanos, que são o povo mais obeso do mundo. Porque comem mal e depressa.

Além disso, em algumas regiões e classes sociais, o acesso ao alimento pouco saudável e o hábito de trocar frutas por doces, consumir salgadinhos industrializados e fast-foods importados, pode significar aquisição de um maior status social, de mais acesso a alimentação que “está na moda”. Seria muito triste constatar que em nosso país possamos estar trocando o problema da subnutrição pelo da obesidade e os bons hábitos da mesa francesa pelos maus hábitos, apressados, dos nossos irmãos do norte.

Autor

Dr. Geraldo Medeiros Neto é Doutor e Livre-Docente em Endocrinologia pela FMUSP, cursou o pós-doutorado na Harvard Medical School, Mass General Hospital, USA. É Professor associado da Disciplina de Endocrinologia da USP e Chefe da Unidade de Tireóide e Laboratório de Tireóide do H

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