385 artigos encontrados em Entrevistas
“Febre” da cirurgia para redução de estômago faz paciente engordar propositadamente para se enquadrar nas exigências clínicas

1) Quais são os critérios para realizar a cirurgia de redução de estômago?
O paciente precisa atingir um IMC igual ou superior a 40. Se o obeso estiver com IMC entre 35 e 40, a cirurgia só será realizada caso existam outras doenças concomitantes, como cardiopatias, hipertensão ou diabetes, entre outras. Somente no caso de obesidade mórbida – IMC superior a 40 – o tratamento cirúrgico é indicado.

2) Como é calculado o IMC?
O IMC é calculado dividindo o peso do indivíduo pela sua altura ao quadrado. Assim, uma pessoa que mede 1,60 m poderá fazer a cirurgia caso tenha 103 kg ou mais. Se este mesmo paciente tiver outras doenças consideradas de risco, a partir de 90 kg poderá ser indicada. Muitas vezes o paciente vai ao consultório pensando na cirurgia e percebe que ainda não atingiu o IMC mínimo para justificar a intervenção, sendo orientado a realizar o tratamento clínico – com orientação nutricional, endocrinológica, psicológica (para controlar a ansiedade e compulsividade) e fazer exercícios físicos.

Achando que a opção cirúrgica poderia resolver os seus problemas mais facilmente, este paciente resolve engordar para atingir o IMC necessário. É difícil ter controle sobre isso, porque a pessoa, ao decidir engordar, não retorna ao meu consultório e opta por outro médico que não saiba que ela engordou propositadamente.

3) O paciente conhece os riscos desta cirurgia?
O maior problema desta escolha é que o paciente não tem noção de quanto a cirurgia é invasiva e de todas as restrições que terá de enfrentar pelo resto da vida. Um paciente que passa pela operação vai ter que reaprender a comer. É como se fosse um bebê.

4) Existe a ilusão de uma vida nova?
Se compara a cirurgia a um casamento, já que depois da lua-de-mel, nos seis primeiros meses, o paciente percebe que o processo não é tão mágico quanto esperava e que ele apenas deixou de ser obeso, mas continua com os outros problemas de antes. Geralmente, o obeso acredita que a cirurgia não vai deixá-lo apenas mais magro, mas que também vai lhe trazer um emprego, uma namorada e uma vida melhor como um todo, mas não é assim.

Uma tendência do paciente acima do peso é culpar a obesidade por todas as suas fraquezas, mas ele tem outras dificuldades como qualquer pessoa e isso só se torna evidente depois da cirurgia.
Nos casos em que o indivíduo engorda para poder se submeter à redução do estômago, a recuperação no pós-cirúrgico seja ainda mais difícil. Afinal, se o paciente passou os últimos meses antes da cirurgia aumentando a ingestão de alimentos, quando tiver que diminuir drasticamente o consumo após a cirurgia terá muita dificuldade.

Ao sair da compulsão excessiva para uma situação de controle é extremamente difícil e muitas vezes a pessoa pode voltar a engordar ou apresentar outros transtornos psicológicos. O paciente que se sente incomodado com a obesidade é capaz de tudo para se sentir melhor. Existem casos em que o obeso chegou a usar caneleiras de areia para parecer mais pesado na hora da consulta e conseguir autorização para a cirurgia.

5) É difícil conseguir a autorização para cirurgia?
Além da ansiedade que o obeso tem de emagrecer, existe outro fator que influencia esta decisão: o financeiro. Em cinco ou seis anos, o gasto que o obeso tem com o tratamento convencional paga o valor da cirurgia. Por isso, tanto o Sistema Único de Saúde (SUS) quanto os convênios médicos autorizam a operação nos casos mais sérios.

6) Como poderia ser reestruturado o atendimento?
A cirurgia muitas vezes é a única solução que um paciente encontra. Existe pessoa que está com o IMC acima de 80 e a operação é a única alternativa para que essa pessoa não morra. Mas ela afirma que nos casos mais simples, de IMC em torno de 30, existem outras possibilidades menos drásticas e que trazem resultado, desde que haja disciplina.

É claro que a cirurgia aparenta ser muito mais fácil e eficaz, mas na maioria dos casos a forma de tratamento indicada é o acompanhamento endocrinológico, nutricional, psicológico e a prática de exercícios físicos. Como solução seria necessária uma reestruturação do SUS. Se os hospitais públicos distribuírem inibidores de apetite, antidepressivos, oferecerem apoio psicológico e nutricional, além de fazer um acompanhamento físico, os obesos podem conseguir emagrecer sem optar por engordar para fazer a cirurgia.

Autores

Dr. Carlos Haruo Arasaki Gastrocirurgião, Médico do Ambulatório de Obesidade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Dra. Maria Isabel Rodrigues Matos Psicóloga do Ambulatório de Obesidade da Unifesp

Os autores estão em ordem alfabética

Contato

Endereço

Rua Cristóvão Pereira, 1626, cj 101 - Campo Belo - CEP: 04620-012 - São Paulo - SP

Email

contato@nutricaoempauta.com.br

Telefone

11 5041-9321
Whatsapp: 11 97781-0074

Nossos Patrocinadores