A desnutrição protéico-energética (DPE) constitui a doença intra-hospitalar mais prevalente, acometendo 50-90% dos pacientes de hospitais do 1º ao 3º mundo, dificultando a resposta aos tratamentos nutricional e clínico e aumentando a morbidade e mortalidade dos pacientes. A detecção precoce da DPE é de extrema importância para garantia da eficiência da terapia nutricional em pacientes hipermetabólicos, agudos e crônicos.
Para a intervenção nutricional contamos hoje com recursos dietéticos com certa tecnologia. Podemos pensar não só em nutrir o indivíduo como um todo, recuperando/mantendo o estado nutricional, mas também em fornecer nutrientes específicos para determinado tecido ou função orgânica. Os nutrientes denominados de imunonutrientes ou imunomoduladores podem melhorar a resposta imunológica e também podem ajudar a preservar a integridade e a imunidade da mucosa intestinal.
A resposta metabólica ao trauma, estresse, queimaduras e outras doenças hipermetabólicas está associada freqüentemente ao aumento na concentração de hormônios catabólicos (catecolaminas, cortisol, glucagon) que exacerbam a gliconeogênese dos aminoácidos (aa) precursores, causando um aumento da degradação protéica, e, conseqüentemente, aumento da proteólise muscular com Balanço Nitrogenado (BN) negativo e alterações do metabolismo de gordura e hidrato de carbono (como hiperglicemia, resistência periférica à insulina, inibição da lipólise). Estas alterações metabólicas são proporcionais à gravidade da lesão. A persistência e a intensidade desse quadro metabólico podem precipitar ou acentuar a Desnutrição Protéico-Energética (DPE) (Waitzberg, 2000).
A depleção dos estoques e desenvolvimento da DPE clínica ocorre com certa rapidez. Durante uma situação de jejum completo, os depósitos corpóreos encontram-se depletados após 40 a 50 dias, com o gasto inicial dos CHO (400-600 g depositados no fígado e músculo - glicogênio-gastos em algumas horas) e também da proteína (fornecer para gliconeogênese). Numa fase adaptativa (após 72h de jejum), a gordura é a fonte preferencial de energia por meio da produção de corpos cetônicos.
Se o jejum ocorrer em conjunto com trauma cirúrgico ou outro estado hipermetabólico (queimadura, infecção, trauma), a depleção poderá ocorrer duas a três vezes mais rapidamente (15-25 dias), uma vez que em situação hipermetabólica de estresse o organismo não consegue alcançar uma fase adaptativa à inanição (a proteólise muscular está mais exacerbada) (Waitzberg, 2000).
Assim, como os depósitos orgânicos de energia e proteína são limitados, mesmo um curto período de jejum, quando combinado com processos hipercatabólicos, pode causar uma depleção grave. Por esse motivo, enfocamos a importância e dificuldade da detecção precoce da DPE sub-clínica ou marginal que muitas vezes passa despercebida aos profissionais, que só vão diagnosticar a DPE na fase clínica com depleção dos estoques.
A DPE intra-hospitalar pode ocorrer em índices bem elevados (50-90%), principalmente em pacientes com câncer, Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) e pacientes cirúrgicos, causando uma série de alterações orgânicas e funcionais que dificultam a resposta aos tratamentos nutricional e clínico, aumentando a morbidade e mortalidade dos pacientes.
Torna-se imprescindível a prevenção ou detecção precoce da DPE, em sua fase sub-clínica ou marginal, para evitar que estas alterações ocorram, introduzindo a terapia nutricional precoce e, com isso, garantindo a eficiência dessa terapia, tanto em pacientes agudos como crônicos.
Cabe ressaltar que a avaliação nutricional no paciente crítico para a identificação daqueles em risco ou com DPE marginal, é difícil de ser realizada (Fleck et al., 1988). Ainda não foi encontrado um teste que seja considerado tanto um indicador sensível quanto específico da DPE no paciente grave. A maioria dos testes é afetada pela resposta à doença ou estado metabólico e não por deficiência nutricional. Os principais problemas são provocados pela alteração da distribuição da água corporal e pelas alterações metabólicas.
Os parâmetros tradicionalmente usados na detecção da desnutrição mostram diferentes graus de sensibilidade conforme o tipo de desnutrição. A desnutrição crônica cursa com níveis de albumina normais ou levemente reduzidos e com redução da imunidade celular numa fase mais tardia (Torún & Chew, 1994). Logo, o paciente crônico apresenta poucas alterações laboratoriais e estoques corpóreos de gordura e de massa magra depletados. O contrário ocorre na forma aguda de desnutrição, caracterizada pela redução de algumas proteínas plasmáticas e da imunidade celular e estoques corpóreos normais de gordura e de massa magra. Sendo assim, os exames bioquímicos são mais sensíveis na desnutrição aguda.
A combinação de sinais de desnutrição crônica e aguda pode coexistir na DPE, de modo a não haver distinção entre alterações antropométricas e laboratoriais numa fase avançada de desnutrição. Não há grandes problemas na identificação da desnutrição crônica, pois as medidas antropométricas já se mostram depletadas, ao passo que, o diagnóstico da desnutrição aguda, que ocorre na presença de estresse metabólico (infecção, trauma, cirurgia, etc), é de difícil interpretação pela limitação do uso dos indicadores bioquímicos nessas condições (Torún & Chew, 1994).
Nesse caso, as medidas antropométricas podem ainda estar normais se o paciente não apresenta desnutrição crônica prévia ou não teve tempo de exaurir suas reservas corporais. Esses aspectos dificultam, no momento em que se faz necessário, o diagnóstico nutricional ao paciente agudamente enfermo.
Pacientes hospitalizados desnutridos estão em alto risco de apresentar problemas em longo prazo, provavelmente devido a episódios continuados ou recidivantes de desnutrição. Torna-se claro que é melhor agir para prevenir e evitar a desnutrição, ou, no mínimo se detectar precocemente, do que reagir ao seu desenvolvimento.
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Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Mai/Jun/2003
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