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Dia Mundial da Alimentação "A água: Fonte de Segurança Alimentar"

Água, Alimentação e Sustentabilidade Ambiental - Dr. Demetrios Christofidis

As estatísticas sobre a fome e a garantia de alimentos no mundo são estarrecedoras. Segundo a FAO, dentro de aproximadamente 20 anos uma em cada quatro crianças será subnutrida. Esta situação indica a necessidade de mudança de olhar em direção a redução das desigualdades sócio-econômicas, alcançando a proteção dos ecossistemas e do principal elemento de segurança alimentar que é a água, bem como definir dietas alimentares regionais sustentáveis que sejam assimiladas pelas populações, com plena consciência do propósito da evolução humana que se deseja.

Conforme as previsões de crescimento populacional e estimativas vinculadas à produção, conservação e distribuição de alimentos, se a população mundial aumentar para 10 bilhões de habitantes, nos próximos 50 anos, teremos 70% dos habitantes do planeta enfrentando deficiências no suprimento de água repercutindo em cerca de um bilhão e seiscentos mil pessoas que não terão água para obtenção sequer da alimentação básica.

Atualmente cerca de 1,5 bilhão de hectares estão em produção agrícola, dos quais cerca de 270 milhões de solos sob o domínio de infra-estrutura hídrica de irrigação. A área de 17,7% sob cultivo irrigado produz mais que 40% da produção total agrícola, enquanto a agricultura de sequeiro responde pelo restante. Há uma expectativa de que o máximo possível de crescimento da superfície irrigada seja de mais 200 milhões de hectares alcançando 470 milhões de hectares irrigados. Esse acréscimo de 200 milhões na área mundial dominada por sistemas de irrigação considera a possibilidade das áreas potenciais brasileiras que representam um adicional, à atual área irrigada de 3,15 milhões de hectares, de cerca de 26 milhões de hectares, ou seja, 13% das capacidades mundiais de desenvolvimento sustentável dos solos para agricultura irrigada.

No Brasil há um grupo com cerca de 30 milhões de pessoas que situam-se na condição de pobreza com uma renda mensal, por pessoa, inferior a 80 Reais. Há outro grupo de pessoas em pior situação, são cerca de 23 milhões de miseráveis, em situação de indigência pois não tem acesso aos alimentos mínimos necessários à manutenção saudável de uma vida produtiva, algo em torno de 2000 calorias (o que eqüivale a uma dieta diária que inclui um pão e meio, cinco colheres de arroz, meia concha de feijão, um bife de cem gramas, meio ovo, farinha de mandioca, farinha de trigo, um copo de leite, três colheres de açúcar e margarina). Metade deste denominado flagelo social está no Nordeste, onde a parcela rural representa 70% dos miseráveis. Nesta situação de difícil acesso aos alimentos, por falta de proteínas, vitaminas e sais minerais é comum encontrar no Nordeste crianças com 3 a 4 anos aparentando 8 a 9 meses.

Na região Nordeste também se encontram 14,7 milhões de pessoas sem acesso a redes de abastecimento de água potável. Este contingente representa cerca de 48% dos ?sem acesso? à água garantida em quantidade e qualidade no Brasil.

Água, Reuso e Sustentabilidade - Prof. Dr. Pedro Caetano Sanches Mancuso / Hilton Felício dos Santos

Em muitas regiões do globo a população ultrapassou o ponto onde podia ser abastecida pelos recursos hídricos disponíveis. Hoje existem 26 países que abrigam 262 milhões de pessoas e que se enquadram na categoria de áreas com escassez de água. Observa-se que pelo menos 8% da reserva mundial de água doce está no Brasil, 80% dos quais na Região Amazônica. Entretanto, apenas 20% daqueles 8% estão nas regiões onde vivem 95% dos brasileiros.

Além disso, a população está crescendo mais rapidamente onde é mais aguda a falta d?água. Um outro ponto a ser explorado diz respeito à água que, depois de usada, é descartada. Sua adequação a um novo uso, mediante tratamento adequado, pode constituir-se num manancial alternativo, particularmente para fins industriais, ampliando-se a economia advinda de reciclagens internas, já praticada por muitas indústrias. São freqüentes no exterior exemplos de lavanderias condominiais substituindo máquinas de lavar roupa dos apartamentos. Outra proposição de conservação da água, bastante conhecida, é a recirculação do esgoto secundário de pisos e pias para a descarga de vasos sanitários.

Entre nós, um empreendimento de porte mais significativo localizou-se no aeroporto de Guarulhos, próximo à cidade de São Paulo (SP). Trata-se do projeto de reciclagem da água do seu terceiro terminal, para utilização em descargas sanitárias, lavagens de pista, lavagem de aeronaves e sistemas de resfriamento. Na esfera federal, recentemente a Agência Nacional da Água criou uma equipe de estudos para desenvolver um programa nacional de reutilização da água, como uma das soluções para diminuir a coleta dos mananciais e prolongar a reserva hídrica dos rios, fortalecendo a posição de que a gestão, que afastaria a escassez, deve ser apoiada na conservação e na reutilização.

A escassez da água apresenta-se sob duplo aspecto: disponibilidade e uso pretendido. Esta distinção é bem aparente comparando-se o consumo rural, onde água se perde pela evaporação e poluição, com o consumo urbano, onde a água não é perdida, mas termina fortemente poluída. O reúso, há alguns anos tido como uma opção exótica, é hoje uma alternativa que não pode ser ignorada, notando-se distinção cada vez menor entre técnicas de tratamento de água versus técnicas de tratamento de esgotos. Realmente, o tratamento de água deve ser visto como um meio de se purificar a água de qualquer grau de impureza para um grau de pureza que seja adequado ao uso pretendido, predominando, portanto, a importância de se selecionar e combinar, competentemente, os diversos processos unitários que sejam adequados.

Importância da água para o organismo Humano - Prof. .Dra. Ana Maria Cervato Mancuso

A quantidade de água existente no organismo humano é mantida constante mesmo durante longos períodos da vida. Essa constância é fundamental para a homeostasia. Esse equilíbrio requer a disponibilidade de água e nutrientes adequados na alimentação diária assim como a participação de vários órgãos e sistemas como rins, pulmões, coração, pele e anexos, hormônios e sistemas nervoso central e autônomo, vasos, proteínas, sangue. A água pode ser medida por seu peso mas geralmente é medida pelo volume.

Água se distribui no organismo humano em dois compartimentos: intra e extracelulares, compondo os líqüidos intra e extracelulares (LIC, LEC). Cerca de 70% do peso corporal do adulto é constituído pela água sendo 50% no LIC e 20% no LEC. O LEC se distribui no interior dos vasos, intravascular (LIV); e no espaço intersticial, entre as células (LIT) ou constituindo os líqüidos transcelulares (LTC) como líquor, líqüidos sinovial, das serosas, sêmen, humor aquoso e vítreo, água óssea inacessível, saliva suco pancreático, bile, sucos intestinais, urina. Os LTC constituem cerca de 2% do total dos líqüidos corporais e estão em constante movimento de um compartimento para outro.

O LIT detêm 13,5%, enquanto o plasma 4,5% da água corpórea. O ser humano possui de 70 a 80ml/kg de peso de sangue, sendo de 1.300 a 1.800 ml/m2 de plasma. O LIT propicia o ambiente onde as trocas entre o sangue e as células se fazem. A linfa faz parte do LIT, está inteiramente nos vasos linfáticos, e junto com o tecido linfóide representa cerca de 18% do peso corpóreo. A quantidade total de líquidos de cada compartimento do organismo, apesar de toda sua dinamicidade, permanece estável. A água ingerida é rapidamente absorvida. É um dos nutrientes que mais fácil e rapidamente penetra no organismo. É de alta digestibilidade, 20 minutos após penetrar no estômago, já está no intestino.

É absorvida em decorrência de diferenças da pressão osmótica entre o plasma e o conteúdo intestinal. À medida que se envelhece vai havendo alterações na proporção de água no organismo. Ao nascer cerca de 2/3 da água se encontra fora das células enquanto no adulto ocorre ao contrário. As crianças possuem mais água corpórea do que os adultos, cerca de 80%, o recém nascido pode chegar a ter mais água ainda. As crianças também possuem maior superfície corpórea, são até duas vezes mais ativas metabolicamente, apresentam maior rapidez na produção de calor, desenvolvem perdas insensíveis também duas vezes mais intensas do que as dos adultos. Nos jovens o grande metabolismo energético requer também mais água para eliminar os resíduos hidrossolúveis para o exterior por intermédio do rim. O débito urinário diário mínimo de um adulto de 70 kg é de 500 ml, enquanto de uma criança de 7 kg a diurese necessária para 24 horas é de 100 ml, portanto o dobro, relativamente, da esperada para o adulto. O organismo das crianças é mais vulnerável às variações da água, por isso elas são mais suscetíveis às circunstâncias que levam à desidratação, como diarréia, vômito ou privação da ingestão de líquidos.

Como a perspiração insensível é determinada pela superfície corpórea e sendo a criança portadora de maior área corporal relativa do que o adulto, ela se torna naturalmente mais vulnerável à perda de água, também por esse mecanismo, do que o adulto. Os obesos e idosos são também mais vulneráveis quando perdem água, mesmo que seja em pequena quantidade. A participação da água como fração do peso corpóreo no obeso é muito menor do que nos magros. O tecido adiposo contém pequena quantidade de água, o balanço hídrico é portanto menos estável nos obesos quando se comparam perdas semelhantes de líquidos com magros. As pessoas gordas podem ter tão pouco quanto 25 a 30% de seu peso corpóreo em água.

A margem de segurança com relação às perdas de água não são portanto expressivas. O uso de diuréticos para provocar perda de peso reduz ainda mais a quantidade de água, colocando a pessoa em risco de vida. A gordura corpórea é nas pessoas sadias a principal variável que influência o volume de sangue. Os magros apresentam relativamente mais sangue por quilograma de peso do que o obeso. A mulher, que em geral possui mais gordura do que tecido magro comparativamente ao homem, apresenta 65ml/kg de peso de sangue. Na gravidez o volume vascular aumenta em torno de 25%. Os idosos também possuem menor quantidade de água que os jovens, chegam a ter 40 a 50% de água em seu peso corpóreo.

Os idosos tendem a perder para o exterior soluções isotônicas além de ingerirem menor quantidade de líquidos, isso exige do organismo, para preservação da concentração iônica normal, remoção adicional de eletrólitos em relação à água. Essa situação exige ajustamentos finos que são naturalmente perdidos com o envelhecimento. O rim e as glândulas endócrinas dos idosos são menos capazes de produzir esses ajustes, a arteriosclerose pode impedir seu senso de sede, provocar redução da ingestão de água, deixando-o sem vários controles que permitam ajuizamento adequado sobre suas perdas e como controlá-las.

Autores

Dr. Demetrios Christofidis Doutor em Gestão Ambiental/Universidade de Brasília: UnB/Centro de Desenvolvimento Sustentável (2001), MSc: Engenharia de Irrigação e Drenagem: Universidade de Southampton/Inglaterra (1988), Consultor do Ministério da Integração Nacional/Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica/PROÁGUA – Semi-Árido/UNESCO
Hilton Felício dos Santos Prof. Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP
Prof. Dr. Pedro Caetano Sanches Mancuso Professor Doutor do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP
Prof. Dra. Ana Maria Cervato Mancuso Professora do Depto de Nutrição da FSP/USP, Mestre e Doutora em Saúde Pública

Os autores estão em ordem alfabética

Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Nov/Dez/2002

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