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Novos Enfoques Sobre o Cuidado Nutricional na Aids

1) O comprometimento do estado nutricional acelera a progressão da AIDS?
Há algum tempo já se reconhece que o comprometimento do estado nutricional afeta o sistema imunológico e acelera a progressão da AIDS.
Diante deste fato, torna-se imprescindível que toda pessoa soropositiva ou com AIDS seja submetida à avaliação nutricional criteriosa, em todos os estágios da doença.

Nas etapas iniciais da infecção pelo HIV a pessoa pode apresentar-se com sobrepeso ou obesidade, fato que não deve ser negligenciado, visto que o excesso de peso é um fator causal de outras patologias (hipertensão arterial, diabetes melittus, doenças cardiovasculares, etc). Por isso a pessoa deve ser orientada a controlar o peso corpóreo através da correção de erros alimentares, e ser estimulada a praticar atividade física, com o objetivo de reduzir a reserva de gordura corpórea e aumentar a massa magra.

A terapia nutricional a ser instituída deve ser individualizada, de acordo com as necessidades específicas de cada indivíduo, respeitando seus hábitos alimentares e condições clínicas. É necessário orientá-lo quanto ao uso de alimentação saudável e higiene alimentar, já que encontramos pessoas com algumas noções errôneas sobre estes aspectos.

2) Como está a situação da mulher em relação a incidência da AIDS
A incidência da AIDS tem se apresentado de forma crescente entre as mulheres, atualmente girando em torno de 3 homens para 1 mulher infectada.
A modificação na composição corporal, que ocorre durante a infecção pelo HIV, acontece de forma diferente nas mulheres. Elas perdem gordura desproporcionalmente e perdem massa magra em uma etapa tardia do emagrecimento.

Os homens perdem massa magra desde o início, antes mesmo de apresentarem perda de peso.
A gestação é fator de aumento dos requerimentos de macro e micronutrientes na mulher. Somando-se a ela a infecção pelo HIV, certamente estes requerimentos tornam-se maiores e necessitam de atenção especial do nutricionista.

É sempre bom lembrar que, apesar de o leite materno ser reconhecidamente o melhor alimento para a criança, especialmente nos primeiros seis meses de vida, a mulher soropositiva deve ser aconselhada a não amamentar seu filho, já que a chance de transmissão do HIV aumenta substancialmente se a criança sugar o seio materno.
Existe a possibilidade de pasteurização do leite materno, para ser ofertado à criança, visto que neste processo ocorre a inativação total do vírus. A pasteurização deve ser realizada em bancos de leite, onde são controlados tempo e temperatura, para obtenção de um produto confiável.

3)Que sintomas comprometem o estado nutricional?
O HIV e as infecções oportunistas podem causar disfunções gastrointestinais e metabólicas. Estas alterações funcionais podem comprometer o estado nutricional do paciente, por diminuir a ingestão alimentar ou causar má-absorção.

A terapia anti-retroviral também pode ser a causa de algumas destas manifestações.
Algumas das disfunções mais freqüentes são náuseas, vômitos, epigastralgia, inapetência, diarréia, disgeusia, disfagia e odinofagia
Em cada situação o paciente deve ser orientado sobre a forma de minimizar os sintomas e proporcionar uma ingestão alimentar adequada.

4)Como se caracteriza a Síndrome Consumptiva (“Wasting Syndrome”)?
Caracteriza-se por perda ponderal involuntária, igual ou superior a 10% do peso usual associada a diarréia, fraqueza ou febre maior que 38ºC por 30 dias, sem outra patologia que justifique este achado. Pode ocorrer em todos os estágios da infecção pelo HIV.

5) Como é realizado o tratamento da Síndrome Consumptiva?
Não basta apenas corrigir a ingestão alimentar, visto que a restauração da massa corporal magra só ocorrerá quando a resposta catabólica for removida. Portanto outras medidas devem ser associadas.
Os exercícios de resistência podem aumentar a massa corporal magra.
Para pessoas com síndrome consumptiva eles são recomendados em combinação com o uso de esteróides anabolizantes.

Existem estimulantes de apetite sendo utilizados para aumentar a ingestão alimentar. No entanto, todos eles apresentam efeitos colaterais, que devem ser avaliados antes de serem prescritos pelo médico.
Veja os efeitos de algumas destas drogas:
- acetato de megestrol - hiperglicemia e diabetes
- dronabinol - ansiedade, diminuição da concentração, confusão e sonolência
Outras drogas são utilizadas para aumentar a massa muscular: hormônio do crescimento, testosterona, supressores de citocinas e outros. Em estudos controlados algumas destas drogas propiciaram aumento da massa magra, porém outras ainda apresentam resultados controversos e necessitam mais investigação.

6) O que ocasiona a lipodistrofia e quais são os sintomas?
Com o advento dos anti-retrovirais as pessoas têm experimentado redução na sua carga viral, aumento de seus linfócitos CD4 e melhora da qualidade de vida. Mas além destes, tem-se documentado uma ampla gama de alterações corpóreas, com uma variedade de anormalidades metabólicas.

Pacientes com lipodistrofia apresentam redistribuição da gordura corporal, diminuição do tecido adiposo subcutâneo, aumento do tecido adiposo visceral em homens e mulheres, acúmulo de gordura dorso cervical (“buffalo hump”). Como alterações metabólicas apresentam hipercolesterolemia, com aumento de LDL e VLDL e redução de HDL; hipertrigliceridemia; resistência à insulina e diabetes
A combinação das alterações corpóreas e metabólicas aumenta o risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

A etiologia da síndrome é desconhecida e muitos fatores podem contribuir.
Os inibidores da protease, em particular, estão sob suspeita, já que estas drogas podem alterar as concentrações de lipídios sanguíneos e interromper e/ou alterar o metabolismo da glicose e da insulina.
Mas provavelmente, o HIV também tem um papel importante, visto que durante a etapa inicial da doença, o vírus altera o metabolismo.
As anormalidades poderiam estar relacionadas com a progressão da doença em si, a supressão viral com o restabelecimento do sistema imunológico, ou ainda, uma combinação destes fatores.

7)Como deve ser o tratamento da lipodistrofia?
Não há cura para a lipodistrofia, mas há maneiras de tentar reduzir as alterações metabólicas e as mudanças na distribuição da gordura corporal.
Atualmente o hormônio do crescimento tem sido utilizado para reduzir o acúmulo da gordura dorsocervical e da gordura abdominal.
Para reduzir os lipídios sanguíneos utiliza-se as estatinas e a genfibrozila.
A lipoaspiração pode ser a solução estética para o acúmulo da gordura dorso cervical, mas estudos demonstram que há recidiva após algum tempo.

Estudos sobre os efeitos da modificação da dieta associada a exercícios físicos, em pacientes soropositivos com dislipidemia, não apresentaram efeitos significativos.
No entanto, como as alterações corporais e metabólicas aumentam o risco de doenças cardiovasculares, os pesquisadores sugerem que se deve controlar o peso corporal, limitar o consumo de gorduras saturadas e colesterol, reduzir o consumo de carboidratos simples, praticar exercícios físicos, parar de fumar e restringir o uso de bebidas alcoólicas.

Ainda que o tratamento com inibidores da protease esteja sendo considerado o principal fator de desenvolvimento da lipodistrofia, são necessários mais estudos para se chegar a uma conclusão definitiva.
Os especialistas recomendam que não haja interrupção da terapia anti-retroviral, inclusive quando as pessoas experimentam mudanças corporais, para evitar o desenvolvimento de resistência pelo vírus.

Autor

Dra. Gisela Mishima de Macedo Nutricionista da Secretaria de Estado de Saúde – Brasília-DF

Os autores estão em ordem alfabética

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