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Obesidade: Prevenção Nutricional

Obesidade: Prevenção Nutricional - Profa.Dra. Rebeca C. de Angelis

A prevalência da obesidade está assumindo proporções alarmantes de epidemia. No entanto provavelmente as condições genéticas dos indivíduos são as mesmas de alguns anos atrás, então outros são os fatores determinantes.

Enfatiza-se que cada indivíduo deve se conscientizar na maneira de agir. Os fatores de riscos de doenças degenerativas como as cardiovasculares estão aumentando vertiginosamente a sua prevalência e, pelos estudos epidemiológicos, este fato está associado aos hábitos de vida mais sedentária e a uma alimentação muito pouco saudável. A par disto, a obesidade progride alcançando características de epidemia em muitos países e aqui entre nós de forma alarmante.

Cada vez mais, os indivíduos apresentam diabetes do tipo II, diabetes na idade da maturidade, hipercolesterolemia e cânceres de estômago, de mamas, de próstata, de cólon. Entretanto, os grandes avanços técnico-científicos melhorando as condições de vida estão convergindo para que mais indivíduos alcancem a velhice, mas também aumentem os desafios para fazê-lo com saúde.

Não obstante, a maior parte das pessoas ainda hesita em aceitar que os riscos inerentes de cada indivíduo devido a fatores da herança genética ou por agressões do meio ambiente e de hábitos de pouca atividade física, aliados a uma alimentação desequilibrada interfiram predispondo-os a enfermidades do tipo degenerativo.

Para enfrentar estas condições adversas é preciso dispor de defesas do próprio organismo, as quais nem sempre são suficientes.

Obesidade infantil e redução de estômago - Dr Nataniel Viuniski

Nunca se falou tanto em obesidade infantil. Com razão, esse problema já é considerado uma epidemia global pela organização mundial da saúde. No mundo, de cada dez crianças, uma está acima do peso! No Brasil, respeitando algumas diferenças regionais, temos mais obesos que desnutridos. Em Santos (SP), uma pesquisa estudou crianças de escolas da rede pública e privada e constatou que 33% delas estavam acima do peso saudável.

Esse fato merece a atenção das autoridades de saúde, pois crianças que estão com sobrepeso ou obesas apresentam riscos importantes para a sua saúde atual e futura. Apnéia do sono, hipertensão, resistência à insulina e alteração nas gorduras do sangue são apenas alguns exemplos, não esquecendo do terrível sofrimento emocional que os jovens obesos encontram numa sociedade cada vez mais exigente com a boa forma e aparência.

Estudos longitudinais, que acompanharam crianças desde os primeiros anos de vida até completarem 70 anos ou mais, mostraram que aquelas que eram obesas tiveram mais que o dobro de doenças cardiovasculares ao longo da vida, quando comparadas com aquelas que tinham um peso adequado. Esse fato, por si só, justifica que hoje, quando estamos diante de uma criança com obesidade, temos a obrigação de melhorar seu peso, para prevenir problemas graves na vida futura.

A grande questão é: como fazer isso de uma forma segura, eficiente e saudável? Existem duas grandes diferenças entre um obeso adulto e pediátrico. As crianças estão em fase de crescimento e não são responsáveis pelo seu estilo de vida.

Assim, qualquer proposta séria para essa população tem que respeitar essas características. É com grande preocupação que vemos um aumento da indicação de cirurgia bariátrica para crianças. O grande argumento é que elas já tentaram de tudo, nada funcionou e que se nada fosse tentado elas acabariam morrendo. Talvez aqui tenhamos apenas uma parte da verdade!

Um tratamento padrão e eficaz para obesidade infantil implica em modificar os hábitos da criança e de toda a família. Reeducação alimentar, atividade física e mudanças comportamentais, dentro de um ambiente positivo, de acolhimento, compreensão e cumplicidade entre todas, costuma trazer excelentes resultados. Além da família, a escola também tem um papel vital na prevenção e manejo da obesidade. A criança passa ali boa parte do dia, faz pelo menos uma refeição, tem ótimas oportunidades de aprender sobre estilo de vida saudável e gastar energia.

Será que operar o estômago de uma criança obesa, não é tentar resolver numa sala de cirurgia o que não conseguimos solucionar na sala de jantar ou na sala de aula? Como especialistas em obesidade infantil, somos os primeiros a reconhecer que estamos diante de uma doença grave, de difícil manejo e que a prevenção ainda é a melhor proposta.

Reconhecemos ainda que a cirurgia da obesidade é um recurso terapêutico válido e excelente para obesos adultos, graves, com indicação correta e principalmente quando efetuada por centros experientes, com acompanhamento multiprofissional no pré e no pós-operatório.

A questão aqui é esgotar todos os recursos científicos reconhecidos antes de operar uma criança, que vai passar os próximos 50 ou 60 anos com seu aparelho digestivo gravemente modificado, sem que se conheça essas conseqüências a longo prazo, tanto do ponto de vista físico como emocional. É próprio do ser humano buscar uma saída fácil, quase mágica para seus problemas. Com a obesidade não é diferente.

Estamos convencidos de que com uma real participação da família, com uma escola preocupada em ser um ambiente saudável e com um tratamento multidisciplinar, composto por especialistas em nutrição infantil, psicólogos, profissionais da atividade física, lançando mão dos recursos médicos mais modernos, podemos controlar essa grave patologia, evitando, assim, uma intervenção cirúrgica, que deixa de ser um ato médico, para ser uma atitude desesperada.

Autores

Dr. Nataniel Viuniski Pediatra, Especialista em Obesidade Infantil, Coordenador do Departamento de Obesidade Infantil da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade – ABESO
Profa. Dra. Rebeca C. de Angelis Doutor, Faculdade de Medicina,USP; Professor Livre-Docente, Faculdade de Enfermagem,USP; Professor Adjunto,Instituto de Ciências Biomédicas,USP; Ex-Presidente Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição,SBAN; Nutricionista Registrada Nutrition Society, Reino Unido; Sócio-Emérito, American Society for Nutritional Sciences,USA

Os autores estão em ordem alfabética

Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Mai/Jun/2005


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