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Diabetes e Hipertensão: Principais Causas de Insuficiência Renal Crônica

1) Os portadores da portadores de insuficiência renal crônica percebem a doença logo no início?
Muitas pessoas levam uma vida normal sem perceber que uma doença se instala silenciosamente em seu organismo. Na maioria das vezes, é o que acontece com os portadores de insuficiência renal crônica (IRC). Isso porque as principais causas para o seu desenvolvimento são a diabetes e a hipertensão, males quase sempre assintomáticos. Diante disso, o combate a essas doenças é uma das prioridades da nova Política Nacional de Atenção aos Pacientes Portadores de Doença Renal.

A magnitude da diabetes e da hipertensão é tão grande que se torna um problema de saúde pública. Estima-se que, no Brasil, existam 25 milhões de vítimas desses males, sendo 6 milhões delas com algum grau de lesão renal. Essa constatação levou o ministério a propor a reorganização da atenção básica no Sistema Único de Saúde (SUS) para oferecer acompanhamento adequado aos diabéticos e hipertensos.

O objetivo é reduzir o grande número de pacientes que chegam à diálise (tratamento que substitui as funções dos rins). A Política Nacional de Atenção a Pacientes Portadores de Doença Renal foi definida em portarias publicadas no dia 17 de junho.

2) Como o Ministério da Saúde pretende atuar para resolver este problema?
O ministério vai criar instrumentos para que os gestores municipais e estaduais formulem um plano de prevenção e tratamento das doenças renais de acordo com sua realidade local. Esse plano será uma condição para estados e municípios terem os serviços de diálise credenciados pelo SUS.

O consultor conta que um grupo técnico do Ministério da Saúde já está se reunindo para elaborar e implementar as ações que serão desenvolvidas na atenção básica e na média complexidade. A proposta é oferecer atenção integral aos pacientes com insuficiência renal crônica. Para garantir isso, todos os níveis de atenção serão reestruturados. Uma das ações previstas é a capacitação das equipes do Programa de Saúde da Família (PSF) para identificar e atender diabéticos, hipertensos e pessoas com problemas renais.

Se diabéticos e hipertensos não forem devidamente acompanhados provavelmente terão complicações que exigem procedimentos de alta complexidade, como, por exemplo, tratamento de hemodiálise. Além do comprometimento dos rins, poderão ter problemas cardíacos, amputação de membros inferiores e até cegueira total.
Estudo realizado em maio deste ano pela equipe técnica do ministério identificou como está a situação do atendimento aos pacientes renais antes de eles chegarem ao estágio mais severo da doença.

Nesse diagnóstico, observou-se que a atenção antes da diálise, principalmente com os pacientes hipertensos e diabéticos, não é satisfatória. Foi constatado ainda que grande parte desses pacientes é encaminhada para a diálise sem uma atenção anterior. Eles chegam com aproximadamente 47 anos, idade considerada precoce.

Oitenta por cento entram pela urgência e não estão preparados para o tratamento. Ou seja, não vêm tomando os medicamentos especiais adequadamente. O Ministério da Saúde pretende mudar esse quadro e acredita na prevenção como a melhor forma de diminuir o número de pacientes necessitando de diálise. Por isso, tem como uma das prioridades estruturar a atenção básica.

3) Os serviços de diálise também passarão por reformulação?
Quanto aos serviços de diálise, a nova política prevê um plano de regulação e avaliação. A idéia é realizar um trabalho de controle desses serviços para saber como estão funcionando, se estão sendo efetivos e se estão trazendo resultados positivos para a saúde da população.

4) Como se manifesta a doença?
A insuficiência renal crônica se manifesta quando o rim para de funcionar. Não filtra mais as toxinas do sangue, não regula a produção dos glóbulos vermelhos e nem a pressão sangüínea. Nesse momento, o paciente necessita de um transplante. Mas nem sempre isso é possível de imediato. Atualmente, existem 58.500 pessoas na fila de espera para transplantes. Desse total, 29.928 aguardam um transplante de rim.

Doenças como infecção do trato urinário, dos rins, cálculo renal e outras podem levar à IRC. No entanto, o estudo do Ministério da Saúde revelou que a diabetes e a hipertensão são as principais causas. As pessoas que sofrem dessas doenças e não as controlam corretamente provavelmente estão desenvolvendo algum grau de deficiência renal. Esses pacientes devem procurar acompanhamento médico e estar atentos às manifestações de deficiências renais.

Os principais sintomas da IRC são: perda de apetite, perda de peso, diminuição da quantidade de idas ao banheiro para urinar, inchaço dos tornozelos ou ao redor dos olhos, dor lombar; pressão sangüínea elevada, anemia, fraqueza e desânimo constantes, náuseas e vômitos freqüentes pela manhã, e alteração na cor da urina (fica parecida com coca-cola ou sanguinolenta).

Quando os rins já não funcionam corretamente, há a necessidade de se fazer diálise. Se não houver possibilidade de um transplante renal, o tratamento deve ser feito para o resto da vida. São três sessões por semana, com duração de quatro horas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o parâmetro para ocorrência de IRC em um país em desenvolvimento é de 40 pacientes necessitando de diálise para cada 100 mil habitantes. No entanto, esse parâmetro pode variar de acordo com a realidade local, como grau de desenvolvimento do sistema de saúde e média de idade da população.

Alguns estados brasileiros estão longe dos parâmetros estabelecidos pela OMS. Hoje, existem aproximadamente 60 mil pacientes no País com insuficiência renal necessitando de diálise.
O técnico revela que, em estudo realizado recentemente, pôde-se observar a menor incidência de pessoas com diabetes e hipertensão em algumas etnias indígenas brasileiras. Sendo assim, essas populações também são menos atingidas pela insuficiência renal crônica.

Acredita-se que a boa saúde desses indígenas se deve ao fato de conservarem hábitos alimentares mais saudáveis. Não comem fritura, sal e comidas industrializadas.
Uma alimentação desbalanceada, com muito sal, gordura e carboidrato, e a falta de atividade física, o estresse e o tabagismo levam a problemas de saúde graves como a diabetes e a hipertensão. Essas doenças, se não acompanhadas, levam à IRC.

É preciso mudar os hábitos da população; se isso for possível, com certeza haverá uma diminuição nos casos de insuficiência renal.
A população deve estar atenta, principalmente, às infecções urinárias constantes em adultos e crianças, à diabetes e à hipertensão. Ao aparecimento de alguma dessas doenças é preciso procurar um médico. O grande problema é que hipertensão e diabetes não doem e por isso as pessoas não cuidam corretamente. Os pacientes até começam a tomar os remédios, mas não sentem os efeitos e param de tomar.

5) Qual será a Política de atenção integral?
Hoje, cerca de 95% dos pacientes que fazem diálise no Brasil são atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Há aproximadamente 650 serviços de saúde no País que oferecem o tratamento para pessoas com insuficiência renal crônica (IRC). O Ministério da Saúde disponibiliza 12 mil máquinas de diálise. Cada uma delas atende uma média de seis pacientes.

A proposta do governo é oferecer um atendimento especializado, que engloba a prevenção da doença. O ministério determina a atenção integral ao paciente com IRC, pois trata-se de uma doença que envolve o bom funcionamento de várias partes do organismo. Os diabéticos, hipertensos e pessoas com insuficiência renal têm comorbidades em todos os órgãos e necessitam de uma atenção global.

A nova política de atendimento do Ministério da Saúde inclui a garantia de internação quando necessário, realização de exames mensais e semestrais para avaliar a evolução do tratamento e serviços de diálise sempre que for preciso. Com a Resolução RDC nº 154/04, foram estabelecidas novas regras para o quadro de pessoal, fiscalização e rotina dos serviços de diálise.
Além de médicos e enfermeiros, as equipes agora deverão contar com profissionais da área de serviço social, psicólogos e nutricionistas.

Em geral, os pacientes são pessoas na faixa etária de 45 a 50 anos, que estão no auge da produtividade, e sofrem grande impacto na vida ao descobrir que terão que fazer hemodiálise.
O técnico explica que o acompanhamento psicológico é essencial, pois o tratamento da IRC reflete no trabalho e abala a estrutura familiar.

O tratamento não é fácil, são três vezes por semana e dura quatro horas por dia. Existem pessoas com dificuldade de transporte, que andam até duas horas para fazer hemodiálise. Uma alimentação balanceada também é essencial, por isso a inclusão de um profissional de nutrição.

O técnico acredita que com a ajuda de um psicólogo os pacientes apresentarão melhores resultados durante o tratamento. Os psicólogos também vão oferecer um suporte para os profissionais de saúde que atuam na área, pois são cerca de 100 mil pacientes com problemas que os transmitem para a equipe.

Autor

José Flávio Diniz Nantes Professor da Universidade de São Carlos, São Carlos, SP.

Os autores estão em ordem alfabética

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