Oncologista do HCor alerta para importância do controle do peso na prevenção do câncer
 
A combinação de boa alimentação com atividade física constante é capaz de prevenir, em grande número, cânceres relacionados, sobretudo, ao sistema digestivo. Alguns casos de cânceres de esôfago e de endométrio, por exemplo, podem, assim, serem evitados. Os dados, específicos para o país, fazem parte do relatório de políticas e ações para a prevenção do câncer no Brasil, lançado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), em parceria com o Fundo Mundial de Pesquisa contra o Câncer (WCRF).

Porém todas as recomendações definidas para prevenção do câncer terão maior eficácia, quando associadas àquelas que previnem a obesidade, e outras doenças crônicas. Sobretudo no caso de mulheres, a associação de alimentação saudável com a prática de exercícios físicos regularmente é importante para a prevenção do câncer de mama. O tecido adiposo é responsável por parte da produção de estrógeno e a quantidade anormal de gordura no organismo aumenta a produção desse hormônio que pode, por sua vez, estimular tumores da mama.

Entre as mulheres, a redução de altos percentuais de gordura corporal também diminuiria significativamente o risco de câncer de esôfago, pâncreas, vesícula, reto, endométrio e rim. A estatística é especialmente importante diante do quadro vivido atualmente - não somente no Brasil. Os alimentos se ingeridos em quantidade adequada - evitar o excesso de calorias e privilegiar o consumo de verduras e frutas -, são a base de uma alimentação saudável. Para que os alimentos possam realmente ajudar na prevenção do câncer, é necessária uma combinação deles, com uma dieta colorida, composta por verduras e legumes, de duas a três porções diárias, além de intercalar com as frutas. Evite também a ingestão de defumados, como churrasco e bacon. A carne vermelha não é proibida, mas é bom variar com a branca e com peixe.

Atividade física e prevenção do câncer: nesse contexto, a atividade física atua na prevenção do câncer por ser um elemento que reduz o sobrepeso ou diferentes graus de obesidade. A obesidade, por sua vez, desregula múltiplas vias hormonais, e está associada a altos níveis de insulina, baixos níveis de testosterona e altos níveis de citocinas inflamatórias. Cada um destes fatores pode ser determinante para a progressão do câncer.

Recomenda-se também associar a prática da corrida e caminhada a uma dieta saudável que inclua antioxidantes, dentre eles o selênio, vitamina E e licopeno. Os antioxidantes são capazes de inibir efeitos perigosos do chamado estresse oxidativo dos tecidos, que interfere na regulação do ciclo celular e colabora, desta forma, com o desenvolvimento do câncer.

Dieta da prevenção: não é o simples fato de consumir tomate, por exemplo - um alimento rico em licopeno e com propriedades que ajudam a prevenir o câncer de próstata - que fará com que a doença seja prevenida. O consumo deste tipo de alimento, conhecido como funcional, pode sim, em conjunto com outras medidas, ter um papel de destaque na prevenção.
Nesse cardápio de alimentos funcionais se destacam os cereais integrais, leguminosas (feijão, soja etc.), linhaça, brócolis, couve flor, espinafre, tomate, alho, cebola, melancia, morango, goiaba, uva, peixes marinhos, chá verde e castanhas. A ciência aponta alguns alimentos como mais ligados à prevenção de determinados tipos de câncer.

Câncer de mama e próstata: os alimentos que ajudam a prevenir o câncer de mama são os que contêm vitamina C e E, por conta dos radicais livres, como soja, castanhas, brócolis, couve flor, assim como o ômega 3, que pode ser encontrado em peixes como salmão, atum e sardinha. Já no caso do câncer de próstata, o mais conhecido, parece ser o licopeno, encontrado, por exemplo, no tomate, molho de tomate, goiaba vermelha e melancia.

Tumores colorretais (intestino grosso e reto): por meio da alimentação, o recomendável é evitar a ingestão de alimentos gordurosos e embutidos, assim como o consumo excessivo de carne vermelha. Por sua vez, também contemplar uma alimentação rica em frutas, verduras e legumes, que são fontes de fibras.

Câncer de esôfago: o consumo de determinados alimentos é um importante fator de risco para o desenvolvimento do câncer de esôfago. É recomendável evitar a ingestão excessiva de alimentos em temperatura elevada, muito comum no sul do Brasil, na Argentina e no Uruguai. Além disso, a doença de refluxo pode aumentar em 70% o risco de uma pessoa desenvolver câncer de esôfago. Deve-se evitar também a ingestão de café, chá, refrigerantes, bebidas alcoólicas e alimentos com muito molho, principalmente o de tomate, que tendem a piorar os sintomas.
 
Tipos de câncer causados pela obesidade:
câncer de mama (pós-menopausa), câncer de cólon e reto, câncer do útero, da vesícula biliar, de rim, de fígado, esôfago, ovário, pâncreas, próstata, estômago, tireoide. A incidência dos tipos de câncer listados acima corresponde à metade do total de casos de câncer diagnosticados anualmente no país. Para 2025, a previsão é que cerca de 19 mil casos de câncer em mulheres e 15 mil casos em homens serão causados por excesso de peso e obesidade.

Obesidade e câncer: estão definitivamente conectados. Mas o mecanismo biológico que explica como o excesso de peso aumenta o risco de desenvolver um tumor pode variar de acordo com os diversos tipos da doença. A obesidade é um fator de risco para o câncer pois provoca um estado de inflamação crônica e altera o metabolismo de determinados hormônios. Isso pode causar danos às células, além de promover ou acelerar o surgimento de tumores.

Prevenção do câncer e combate à obesidade:
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência de excesso de peso corporal na população adulta aumentou de 42,6% para 53,8%. Isso quer dizer que, atualmente, mais da metade dos adultos brasileiros está acima do peso. Um quadro preocupante, ainda mais se observarmos que cada vez mais os brasileiros trocam alimentos frescos e formas tradicionais de preparo das refeições por alimentos processados e ultraprocessados. Além disso, é importante promover o reconhecimento social da relação entre obesidade e câncer e alertar as pessoas sobre a importância de controlar sua massa corporal e, também, o tamanho da cintura.

Fonte
Dr. Auro Del Giglio - oncologista do HCor