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Projeto usa dieta tradicional e informação para melhorar saúde dos índios Xavante. |
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No dia 26 de novembro, o Projeto Xingu, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a Associação Nossa Tribo, Associação Aliança dos Povos do Roncador, Associação Xavante de Pimentel Barbosa e Aldeia Etenhiritipá, assinaram convênio que vai proporcionar assistência médica e nutricional a cerca de 650 índios xavantes no Mato Grosso. Esta ação vai estender a duas novas aldeias os benefícios de um projeto piloto que reduziu os índices de anemia e outras doenças numa pequena aldeia simplesmente reintroduzindo em sua dieta alimentos tradicionais. A experiência foi registrada pelos próprios índios em um vídeo e uma cartilha, que foram lançados durante evento realizado no Auditório Ivo Albertoni, da Unifesp, à rua Borges Lagoa, 1.341 – Vila Clementino. O abandono de hábitos alimentares tradicionais, como o consumo de carne de caça e de frutos silvestres, provocou um quadro preocupante na aldeia xavante Wederã, no norte de Mato Grosso, em que 55% das crianças apresentavam anemia, além de grande incidência de diarréia e pneumonia. Já a população adulta sofria com falta de vitaminas e de ferro, hipertensão, diabetes e obesidade, em uma escala dramática. Um projeto piloto de 18 meses, mantido com recursos da Unesco e apoiado por universidades, vem conseguindo reverter esta situação. Com a presença de médicos, engenheiros florestais e nutricionistas – e utilizando a memória e os conhecimentos de três anciãos dessa aldeia de 60 moradores –, a Associação Nossa Tribo conseguiu restaurar muitos dos costumes alimentares originais, estimulando a caça, entre os homens, e a coleta de frutas, junto às mulheres, além de reforçar a “roça”, reintroduzindo sementes cujo cultivo havia sido abandonado. A mudança alimentar foi identificada há relativamente pouco tempo, uma vez que a aldeia – uma das “nove terras” habitadas pelos xavantes no Mato Grosso – teve seu primeiro contato com o homem branco há 50 anos. Na origem do problema, os índios mais experientes identificaram a expansão das fazendas em torno da aldeia, o que levou para muito longe as áreas de caça e coleta, desestimulando essas atividades. “Eles deixaram de caçar e passaram a comer bolacha, macarrão e doces, que compravam no armazém mais próximo ou que a Funasa lhes trazia”, conta a fotógrafa Rosa Gauditano, que após retratar os xavantes por quase duas décadas começou a presenciar mortes de crianças e decidiu fazer algo a respeito. “Os velhos da aldeia diziam que, antes, as crianças não morriam com a ‘diarréia xavante”, mas que agora, com o que chamam de ‘diarréia do branco’, é diferente”. Após a intervenção, a dieta da aldeia voltou a contar com frutos e outros alimentos tradicionais, como pequi, mangaba, jatobá, babaçu, palmito de macaúba, além de refeições à base de carne de caça, pesca, bolo de milho, mingau de abóbora, feijão xavante e farinha de mandioca e carne seca, entre outros. Projeto Xingu A Unifesp, por meio do Projeto Xingu, incorporou-se ao piloto em sua fase final, mas a partir do convênio desempenhará um papel central, tornando possível a assistência médica periódica e permanente a três aldeias, onde vivem cerca de 650 xavantes. Apesar de atuar há 42 anos com mais de 4 mil indígenas no Xingu, esta será a primeira vez que a equipe da Unifesp trabalhará com os xavantes do norte do Mato Grosso. Vídeo, cartilha e debate Para que toda essa retomada não se perca novamente com o tempo, alunos de Comunicação da Universidade Metodista realizaram uma oficina de vídeo na aldeia e prepararam dois jovens xavantes para roteirizar, filmar e editar um vídeo de 26 minutos relatando a experiência que foi apresentada no evento. Também foi desenvolvida a cartilha bilíngüe (português/xavante) “Saúde e Alimentação do Povo Xavante”, para apresentar o projeto e orientar membros de outras comunidades sobre como proceder. O texto, assim como a tradução, fotos e ilustrações foram produzidos em conjunto por integrantes da aldeia e da Associação Nossa Tribo. Na cartilha, além de informações sobre hábitos alimentares saudáveis, foram inseridas orientações sobre como prevenir e tratar problemas como desnutrição, diarréia, pneumonia, sarna e bicho-do-pé. Logo após a assinatura do convênio e lançamento do vídeo e da cartilha, aconteceu um debate sobre a saúde do povo xavante, com as presenças do reitor da Unifesp, Ulysses Fagundes Neto; do chefe do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp, Luiz Roberto Ramos; dos caciques Cipassé Xavante, Paulo Supretaprã e Suptó Buprewen, das aldeias Wederã, Pimentel Barbosa e Etenhiritipá; representantes da Associação Nossa Tribo; da Associação SOS Comunidade Indígena Pankararu; Unesco/Criança Esperança; e Facom/Universidade Metodista. Temos fotos e exemplares da cartilha e do vídeo para divulgação Universidade Federal de São Paulo – Unifesp
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