Consenso Regional
 

Carta do II Fórum Nacional de Nutrição – Região Sul

O II Fórum Nacional de Nutrição, realizado em Porto Alegre, nos dias 01 e 02 de setembro de 2006, cujo tema central é “Definindo os rumos da Nutrição no Brasil”,

Considerando:
• O fenômeno da globalização e seus efeitos no cenário da transição epidemiológica e nutricional que mostra que 82% da população vive na zona urbana, 48,3% das mortes ocorrem por doenças crônicas não transmissíveis e que, segundo a POF (2002/2003), 12% a 30% da renda mensal são gastos com refeições fora do domicílio;
• Que o país vive hoje uma problemática relacionada a dupla carga de doenças, que correspondem às doenças infecciosas e às doenças crônicas não-transmissíveis;
• A responsabilidade governamental em promover a saúde e incorporar as sugestões da Estratégia Global da Organização Mundial de Saúde;
• Que a desnutrição grave ocorre em 9% das crianças menores de 5 anos;
• Que mulheres expostas durante a gestação à limitações alimentares geram filhos de baixo peso e risco aumentado à intolerância a glicose e obesidade;
• O conceito de índice e carga glicêmica (resposta glicêmica que os alimentos determinam) vem sendo utilizado em estudos quanto a sua importância na patogênese da obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares, com resultados preliminares positivos, mas ainda não definitivos;
• O aumento do consumo de gorduras saturadas, trans e colesterol e a desproporção entre ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 e seus efeitos sobre a integridade das funções celulares de proteção inflamatória e imunológica;
• Os aspectos nutricionais e sensoriais, que necessitam ser resgatados como elementos essenciais para o controle de qualidade nas unidades produtoras de refeições, como estratégia de promoção da saúde;
• A importância da atividade física para a qualidade de vida;
• A necessidade de aumentar o consumo de nutrientes antioxidantes para atletas;
• A fome oculta que, sem sintomatologia visível, interfere em várias etapas do processo metabólico, do sistema imunológico e da defesa antioxidante, comprometendo o desenvolvimento físico e mental do indivíduo, é decorrente da inadequação qualitativa e quantitativa da dieta da população brasileira;

Recomenda:
• A adoção dos Guias Alimentares, instrumentos oficiais do Ministério da Saúde, que definem as diretrizes alimentares para serem utilizadas na orientação de escolhas mais saudáveis de alimentos pela população brasileira em todas as faixas etárias;
• A promoção da alimentação saudável pelo governo, pela família, por empresas privadas e pelos profissionais, com ações centradas em trabalhos complementares de estados e municípios com base nas diretrizes do guia alimentar, considerando aspectos culturais, sociais e econômicos relacionados à alimentação;
• A promoção de alimentação saudável nas escolas;
• Regulamentação do marketing e publicidade de alimentos e ricos em sal, açúcar e gordura, principalmente voltados para público infantil;
• Acompanhamento dos períodos críticos de crescimento como no pré-natal, na criança (observando o período de maior aceleração do crescimento e desenvolvimento do tecido adiposo) e na adolescência;
• Aleitamento materno como protetor da obesidade infantil;
• Reeducação alimentar, prática de atividade física e mudança de comportamento;
• Estudos de longa duração utilizando dietas com alimentos de baixa carga glicêmica;
• O incentivo à ingestão de alimentos com baixa carga glicêmica, tendo em vista não haver efeitos adversos para tal conduta;
• O consumo de óleos de sementes e grãos como fonte de ácidos graxos ômega-6 e óleo de linhaça e peixes como fonte de ácidos graxos ômega-3 nas proporções de 5:1 até 10:1;
• A adoção das recomendações da FAO/OMS (2003) para gorduras, carboidratos, fibras e sal, quais sejam: gordura total entre 15-30%, ácidos graxos saturados menor que 10%, ácidos graxos poliinsaturados entre 6-10%, ácidos graxos omega-6 entre 5-8%, ácidos graxos omega-3 entre 1-2%, ácidos graxos trans menor que 1%, ácidos graxos monoinsaturados maior que 20%, colesterol menor que 300 mg/dia, carboidratos 55-75%, açúcar menor que 10%, fibras maior que 25 g/dia, cloreto de sódio menor que 5g/dia e sódio menor que 2g/dia;
• A alimentação equilibrada e variada incluindo, diariamente, alimentos de todos os grupos na proporção correta para a garantia de fornecimento adequado de nutrientes e de substâncias com propriedades funcionais;
• Ampliar o conceito de qualidade nas unidades produtoras de refeições, criando estratégias e técnicas que visem à adoção de uma alimentação saudável, preservando os aspectos nutricionais e sensoriais, associando-os aos culturais e sociais;
• Exercício físico prazeroso que promova a saúde, a manutenção do peso a longo prazo e uma melhora da composição corporal;
• Cautela no consumo abusivo de suplementação de nutrientes antioxidantes e elaboração de um plano alimentar individualizado para o atleta;
• O enfoque preventivo nas ações de nutrição, desde a infância, no sentido e evitar o desenvolvimento de doenças crônicas não-transmissíveis;
• Uma maior articulação de múltiplos setores, incluindo o governo, a comunidade científica, a indústria, a mídia e a sociedade civil organizada, para o sucesso de estratégias e programas que visem combater as deficiências nutricionais, de forma a subsidiar e otimizar recursos e ações no contexto de um programa de âmbito nacional.

Assina esta carta todos os participantes do II Fórum Nacional de Nutrição – Região Sul

COMISSÃO CIENTÍFICA:
Prof. Dra Andrea Ramalho (UFRJ/RJ)
Dra. Adriana Kobayashi (Equilibrium/SP)
Prof. Dra Beatriz Shaan (UFRGS/RS)
Prof. Dra Bethânia Hering (UNIVALI/SC)
Prof. Dr. Carlos Alberto Werutsky (UFRGS/RS)
Prof. Dra Cláudia D. Schneider (PUC/RS)
Dra. Ivete Ciconet Dornelles (AGAN/RS)
Dra. Dillian Goulart (Ministério da Saúde/DF)
Prof. Ms. Patrícia Schneider (UFRGS/RS)
Dr. Paulo Henkin (Secretaria Estadual Saúde/RS)
Dra. Sibele B. Agostini (Nutrição em Pauta/SP)
Dra. Vera Lúcia Magni (AGAN/RS)