Consenso Regional
 

Carta do II Fórum Nacional de Nutrição – Região Minas Gerais

O II Fórum Nacional de Nutrição, realizado em Belo Horizonte, nos dias 12 e 13 de maio de 2006, cujo tema central é “Definindo os rumos da Nutrição no Brasil”,

Considerando:
• O fenômeno da globalização e seus efeitos no cenário da transição epidemiológica e nutricional que mostra que 82% da população vive na zona urbana, 48,3% das mortes ocorrem por doenças crônicas não transmissíveis e que, segundo a POF (2002/2003) 12 a 30% da renda mensal são gastos com refeições fora do domicílio;
• Que o país vive hoje uma problemática relacionada a dupla carga de doenças, que correspondem às doenças carenciais e as doenças crônicas não transmissíveis;
• A responsabilidade governamental em promover a saúde e incorporar as sugestões da Estratégia Global da Organização Mundial de Saúde;
• Que a obesidade que atinge 11% da população brasileira, com maior prevalência no sexo feminino, de menor renda e responsável por 80 a 100 mil mortes por ano, pode ser resultado da interação nutrição, estilo de vida e genoma humano;
• As comorbidades da obesidade (diabetes mellitus, dislipidemias, etc) que possuem forte impacto social e econômico na área de saúde e da produtividade individual;
• A relação do comportamento alimentar e aspectos culturais com a qualidade de vida e saúde;
• O aumento da carga glicêmica devido ao aumento do consumo de carboidratos e alimentos glicidios processados;
• A gravidade da fenilcetonúria;
• O aumento do consumo de gorduras saturadas, trans e colesterol e a desproporção entre ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 e seus efeitos sobre a integridade das funções celulares de proteção inflamatória e imunológica;
• Os aspectos nutricionais e sensoriais, que necessitam ser resgatados como elementos essenciais para o controle de qualidade nas unidades produtoras de refeições, como estratégia de promoção da saúde;
• O aumento da expectativa de vida e, consequentemente, o fenômeno de envelhecimento da população que têm demandado dos hospitais novas estratégias para fazer frente aos novos perfis de saúde e doença, além do aumento da desnutrição intra-hospitalar;
• A nutrição esportiva como uma ciência recente, os resultados dos seus estudos científicos, cada vez mais crescentes, devido ao incentivo do consumo de recursos ergogênicos nutricionais pelos praticantes de exercícios físicos, atletas e até mesmo sedentários sem prescrição do profissional competente;
• O aumento da atividade física como condicionante da qualidade e da esperança de vida;
• A fome oculta que, sem sintomatologia visível, interfere em várias etapas do processo metabólico, do sistema imunológico e da defesa antioxidante, comprometendo o desenvolvimento físico e mental do indivíduo, é decorrente da inadequação qualitativa e quantitativa da dieta da população brasileira;
• O direito humano de acesso a uma alimentação saudável diante de um mundo globalizado e um país marcadamente desigual;
• A anemia ferropriva, um grave problema de saúde pública para o Brasil, afetando principalmente crianças, adolescente e gestantes.

Recomenda:
• A adoção dos guias alimentares, instrumentos oficiais da Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, que definem as diretrizes alimentares para serem utilizadas na orientação de escolhas mais saudáveis de alimentos pela população brasileira em todas as faixas etárias;
• A promoção da alimentação saudável pelo governo, pela família, por empresas privadas e por profissionais, com ações centradas em trabalhos complementares de estados e municípios com base nas diretrizes do guia alimentar considerando aspectos culturais, sociais e econômicos relacionados à alimentação;
• Estratégias para alcançar o comportamento alimentar desejado de consumo de 5 porções de frutas, verduras e legumes as quais diminuem o risco de doenças crônico degenerativas tais como o câncer de pulmão, obesidade e doenças coronarianas;
• Que a contagem de carboidratos seja adotada para o tratamento do diabetes;
• Iniciar precocemente o tratamento da fenilcetonúria para evitar as manifestações clínicas da doença;
• O consumo de óleos de sementes e grãos como fonte de ácidos graxos ômega-6 e óleo de linhaça e peixes como fonte de ácidos graxos ômega-3 nas proporções de 5:1 até 10:1;
• A adoção das recomendações da FAO/OMS (2003) quais sejam: gordura total entre 15-30%, ácidos graxos saturados menor que 10%, ácidos graxos poliinsaturados entre 6-10%, ácidos graxos omega-6 entre 5-8%, ácidos graxos omega-3 entre 1-2%, ácidos graxos trans menor que 1%, ácidos graxos monoinsaturados maior que 20%, carboidratos 55-75%, fibras maior que 25 g/dia, açúcar menor que 10%, proteína entre 10 a 15%, colesterol menor que 300 mg/dia, cloreto de sódio menor que 5g/dia e sódio menor que 2g/dia, frutas e hortaliças maior que 400 g/dia e calorias totais suficientes para alcançar um balanço energético e manter o peso corporal desejável;
• A alimentação equilibrada e variada incluindo, diariamente, alimentos de todos os grupos na proporção correta para a garantia de fornecimento dos alimentos com propriedades funcionais;
• Aumentar a abrangência da noção de qualidade nas unidades produtoras de refeições, valorizando metodologias de controle para avaliação dos aspectos nutricionais e sensoriais, considerando ainda os aspectos culturais e sociais;
• A adoção de iniciativas humanizadoras no ambiente hospitalar por parte dos profissionais de saúde, incluindo-se o nutricionista, contemplando estratégias que associem a função nutricional e higiênico-sanitária, com a função convivial e hedônica da alimentação, tais como, a avaliação da qualidade alimentar e nutricional das refeições, a avaliação real da ingestão alimentar do paciente, a comissão de cardápios, os testes de degustação, as oficinas educativas, refeitórios para pacientes, revisão de utensílios, dentre outros aspectos;
• A atuação ética do nutricionista, com base em estudos científicos, em academias, clubes, centros desportivos para a promoção de ações educacionais e em laboratórios de pesquisa para a realização de estudos científicos que garantam o uso adequado dos suplementos, quando necessário, que visem o melhor desempenho esportivo e promoção da saúde;
• O enfoque preventivo nas ações de nutrição, desde a infância, no sentido e evitar o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis;
• Ações governamentais de combate à anemia ferropriva nos grupos vulneráveis interrompendo o aumento desta carência e revertendo o quadro atual;
• Uma maior articulação de múltiplos setores, incluindo o governo, a comunidade científica, a indústria, a mídia e a sociedade civil organizada, para o sucesso de estratégias e programas que visem combater as deficiências nutricionais, de forma a subsidiar e otimizar recursos e ações no contexto de um programa de âmbito nacional.

Assinam esta carta todos os participantes do II Fórum Nacional de Nutrição – Região Minas Gerais.

COMISSÃO CIENTÍFICA:
Prof. Dra Andrea Ramalho (UFRJ/RJ)
Prof. Dra Anete Araujo de Souza (UFSC/SC)
Dra. Carmen Zita Pinto Coelho (UNIBH/MG)
Dra Cynthia Antonnaccio (Consultora/SP)
Dra Daniela Souzalima Campos (SES/MG)
Dr. Lupércio Cançado Farah (Newton Paiva/MG)
Prof. Dra. Maria do Carmo Fontes de Oliveira (UFV/MG)
Prof. Dra Rita de Cássia Gonçalves Alfenas (UFV/MG)
Dra. Sibele B. Agostini (Nutrição em Pauta/SP)
Dra. Tais Porto Oliveira (CGPAN/MS/DF)
Dra. Viviane Kanufre (HC/UFMG/MG)