Carta do I Fórum Regional de Nutrição – Belo Horizonte

O I Fórum Regional de Nutrição, realizado em Belo Horizonte, nos dias 08 e 09 de abril de 2005, inserido na programação científica do I Fórum Nacional de Nutrição cujo tema central é “Definindo os rumos da Nutrição no Brasil”,

considerando:
  • As recentes transformações que estão exigindo dos profissionais uma maior consciência do seu papel social, passo fundamental para a ampliação de sua influência na sociedade brasileira;
  • O fenômeno da globalização e seus efeitos nas transformações nos processos sociais no Brasil;
  • Dos 5.500 municípios do Brasil a grande maioria não conta com nutricionistas trabalhando em Saúde Pública, sendo as atividades inerentes a este profissional realizadas por enfermeiros, médicos e outros profissionais;
  • A obesidade atinge 11% da população brasileira, com maior prevalência no sexo feminino e de menor renda, sendo responsável por 80 a 100 mil mortes por ano;
  • As comorbidades da obesidade (diabetes mellitus, dislipidemias, etc) possuem forte impacto social e econômico na área de saúde e da produtividade individual;
  • A manutenção da alta prevalência das dislipidemias na população brasileira com acentuado aumento em crianças e adolescentes. Por exemplo, em Belo Horizonte a doença cardiovascular é responsável por 36% das 81.260 mortes/ano;
  • O diabetes como principal causa de cegueira em indivíduos na faixa etária de 20 a 74 anos, como causa de falência renal, diálise e transplante, como principal causa de amputação de membros, como sexta maior causa de morte devido à doença, como responsável pelo aumento em 2 a 4 vezes da taxa de doenças cardiovasculares e acidente vascular cerebral e, responsável pela diminuição em 15 anos da expectativa de vida;
  • O diabetes como a principal causa de internações em obesos;
  • O aleitamento materno exclusivo pode prevenir o aparecimento das doenças crônico degenerativas não transmissíveis;
  • O aumento da atividade física como condicionante da qualidade e da esperança de vida;
  • As modificações nas estruturas de produção, manipulação e comercialização dos alimentos, impulsionados pela incorporação de novas tecnologias, tanto na produção agrícola com a utilização de sementes modificadas geneticamente em laboratórios, assim como na industrialização de alimentos;
  • As necessidades dietéticas especiais no âmbito do conceito da segurança alimentar e nutricional sustentável, garantindo o acesso e a qualidade nutricional e sanitária dos alimentos;
  • O direito humano de acesso a uma alimentação saudável diante de um mundo globalizado e um país marcadamente desigual;
recomenda:
  • A formação acadêmica de um profissional de nutrição dinâmico, crítico e reflexivo, com visão holística, para atender as necessidades da população e entender o seu papel social;
  • A participação do nutricionista nos órgãos de controle social das áreas de saúde e educação;
  • Consolidar a inserção do nutricionista nas Políticas Nacionais de Alimentação e Nutrição em todos os níveis.
  • Criar ações articuladas para garantir a inserção do nutricionista nas equipes do Programa de Saúde da Família (PSF), no Programa de Saúde Ocupacional, através do PAT, e no Programa de Alimentação Escolar;
  • Formalizar alianças com a sociedade civil que reforcem as políticas públicas de alimentação e nutrição, com ênfase nas necessidades dietéticas especiais, como por exemplo na doença celíaca;
  • Intensificar o enfoque preventivo nas ações de nutrição, desde a infância, no sentido de evitar o desenvolvimento de doenças crônico degenerativas não transmissíveis;
  • A mudança do estilo de vida com ênfase no aumento da atividade física com acompanhamento profissional especializado;
  • A intensificação dos estudos quanto à utilização dos alimentos funcionais e as inter-relações entre Nutrição, Dieta e Genética;
  • Valorizar a gastronomia e a cultura regionais;
  • Repensar as dimensões sociais da alimentação quanto a sustentabilidade da produção alimentar, a equidade na distribuição de alimentos, a autonomia alimentar, a estabilidade na oferta de alimentos e a suficiência de alimentos;
  • Ações governamentais no sentido de garantir alimentação saudável contendo informação nutricional clara e adequada para todos os cidadãos, como direito humano fundamental.
Assina esta carta todos os participantes do I Fórum Regional de Nutrição - BH.

Comissão Científica:
Prof. Dra. Josefina Bressan
Prof. Dra. Margarida Maria Santana da Silva
Prof. Dra. Maria Teresa Fialho de Sousa Campos
Prof. Dra. Neuza Maria Brunoro Costa
Dra. Sibele B. Agostini
Prof. Dra. Sílvia Eloiza Priore